25 julho 2008

Franqueza

Já aprendi que não se muda ninguém.
E cabe a ti aceitar ou recusar o que é, do jeito que é. Só te cabe a escolha, e nada mais.
Triste, como pode parecer; mas simples. A vida é muito simples. Nós é que teimamos em complicar.
A verdade é estampada. Cabe a ti ser apenas franco.

E vale notar que a franqueza difere da verdade.
A verdade é impessoal, o cerne de um fato. A franqueza transcende a verdade: é um valor e define caráter.
A verdade é implícita; a franqueza, explícita.
A verdade pode ser mascarada, omitida; a franqueza não.
A franqueza é a verdade proposital, não apenas circunstancial; não espera ser inquirida, indagada ou examinada; ela é apresentada expontaneamente, crua e sem intenção.
A verdade pode acompanhar a dúvida; a franqueza é companheira apenas da certeza - seja ela qual for.

Entre a verdade e a franqueza, prefiro receber o tratamento da última. Mesmo na dor que ela eventualmente provoque, e que a simples verdade - ou sua falta - poupasse. Porque a dor da franqueza é derradeira: é o chão, e de lá se constrói o alicerce, sabendo-se que o terreno é firme.

E mesmo que ambas se anteponham à mentira, o fazem em diferentes maneiras. A verdade aceita sua convivência, eventualmente. Mas a franqueza não.

E essa mentira, que "tem pernas curtas", é um fenômeno entrópico. Muita energia é necessária para que ela sobreviva...
E toda essa energia, física e psíquica, consome. Causa pequenas frustrações que se acumulam e influenciam. Tanto para o enganado quanto para o enganador.
Toda mentira cai em contradição, eventualmente, se levada por muito tempo. E mesmo o pior dos cegos, um dia a vê.
E para ambos o enganador e o enganado, a noção consciente de se estar afastando-se de seus próprios princípios, dos valores que cada um tem a si próprio como certo e errado, leva invariavelmente ao destino da amargura.

E é claro que há mentiras inocentes: mas atribua-as grau pela tua própria consciência, pois tua consciência nunca trai
a ti mesmo, mesmo que tu queiras ter-te enganado. O teu certo e o teu errado, embora relativos aos demais, são absolutos a ti, e por conta deles é que te definirás feliz ou amargo.

Então, para quê desperdiçar tempo, fechando os olhos? Encurte-se o caminho - a franqueza é uma aliada.
Cutuque tua própria ferida. Dê a cara a tapa. Assuma teus erros. E assuma teus desencantos também.
Tão mais logo quanto o fizeres, tão mais vivo e livre serás.
Nao te contentes em ser apenas verdadeiro, mesmo que não te favoreça de imediato: sejas franco.

-- por João Otero - 25-jul-08 --