29 julho 2010

Tudo o Que Eu Posso

Tudo o que eu posso
se configura num bem-querer
num avaliar
num decidir

Tudo o que eu posso
se transfigura em não-sentir
num quebra-mar
num "venha aqui!"

Tudo o que eu posso
é bruma branca em dia de sol
é folha seca em um outono
e algum perfume inevitável
na primavera

Tudo o que eu posso
quem me dera!
era querer ser
um pouco mais que esse sofrer
em querer ser o que eu não posso

-- João Otero - 29-jul-10 --

25 julho 2010

Hoje contei uma verdade.

19 julho 2010

Hipocondríaco e Sintomático

Hipocondriaco e Sintomático

Eu, hipocondríaco, sintomático, quase transformo em febre reumática uma mera streptococcus. Não é que, preocupado em sufocar de dor, acordo eu e entro na internet pra descobrir do que se trata minha chaga; e horas depois, ao acordar novamente no meio da noite, meu dedão do pé tá inchado, doendo, pulsando, como se eu tivesse chutado a quina do balcão - ou como se eu tivesse mesmo é com uma febre reumática?!

Aos hipocondríacos como eu são aos que mais funcionam os placebos, e aos que menos servem os homeopáticos. Pois é só dizer que há uma chance remota de um efeito colateral para ele virar sintoma líquido e certo; e é só dizer que "leva tempo, mas funciona...", que o tempo esse é exagerado, e vira "nunca" imediatamente!

Eu, hipocondríaco, sintomático, tenho flashback e entro em nóia até com erva natural. ...Nem me arrisco em nada um pouco mais sintetizado!

Eu, hipocondríaco: ao se me despontar um novo amor, já sei, de prévia sabedoria que ele vai durar pouco; que eu vou me entregar de todo; que eu vou sofrer muito... Não, um pouco mais do que isso. Muito mesmo. Já sei que vou ter pano pra manga pra minha poesia por alguns dias. Que o mundo vai acabar e todas aquelas coisas dos hipocondríacos...

E aí eu ligo, escrevo, imploro, me abro como nunca, digo que amo... E no seguinte segundo, "puff" - ela escapuliu! "Eu não disse?!"

...Eu: sintomático!

-- João Otero - 19-jul-10 --

Uma Geada

E a manhã alva dos campos de minha terra
Se me tem a camuflar uns lírios, a me apagar as relvas
Anunciada pelo um vento minuano, sempre repentino e forte,
A meio ano
Se me tem trocando o pano pela manta grossa e um pala
Ela que vem e me cala, contragosto, em branca tez
Ela que vem e me pára, num calafrio cortês
Ela que reclama tudo, e cobre tudo, dos meus olhos ao meu pêlo
Mas por baixo dos véus que cegam
Eu sei que brilham as relvas dos meus campos outra vez
E eu aperto meu canto, com nó de lenço vermelho
- Com cheiro de sangue, de guerra -
Para cantar as belezas de minha terra, de onde não me arredo
Por mais judiado que eu seja ao passares
Dama alva, linda... horrenda...
E o meu riso é porque eu sei que não há vento que se prenda!
Te mostro os dentes pois sei que logo após as coxilhas
Tenho o perfume das negras, e a pele-cuia das índias
E os campos que eu sempre quis
Não há pois como eu me renda
A uma passageira prenda
Se no seio da coxilha
Me aguarda tudo o que eu preciso
Para ser feliz

-- João Otero - 19-jul-10 --

09 julho 2010

A minha espera

E eu to ainda pra ver quem vai se abrir num gozo para a vida, encarando num êxtase eterno a duraçao de cada segundo, e viver uma plenitude de sensibilidade sem fechar-se logo em seguida dentro de si e de seus medos privados. Eu to ainda pra ver quem fará sexo com a vida. Eu to ainda pra ver quem vai trocar aqueles poucos segundos de conjunção carnal pela sensibilidade envolvente e mais aflorada de algo mais transcendente. To ainda pra ver quem vai fazer aqueles parcos segundos durarem pra sempre.

07 julho 2010

Melancolia

A melancolia se me dá em alguns tons de amarelo misturados com saudades...