29 maio 2011

Jovem é o coração que ainda sabe sofrer


Jovem é o coração que ainda sabe sofrer
Eu, mais desatento,
rescindi a dor do meu peito
e quando dei por mim, envelheci
O sofrimento é um luxo das aflições que valhem a pena
..Mas como dói
E essa dor é o tema
das aflições que eu senti
Mas um peito rasgado se remenda
E a dor só valora as lágrias que pela vida se derrama
Porque jovem é o coração que ama
E amar, e doer, e sofrer... é tudo parte da mesma senda
Que se visita quando houver consentimento
da alegria,
meretriz da dor,
por merecimento

-- João Otero - 13-jan-11 à 29-mai-11 --

28 maio 2011

ensaio: A Evolução da Linguagem

A Evolução da Linguagem
João Otero - 28-maio-2011

      Desde a invenção do computador moderno, por volta dos anos 1950, passamos a viver a "era da informação". Com o processamento automatizado dos cálculos computacionais, o aumento na quantidade de informação disponível foi notável. Mas a informação por si só não gera valor: a informação só existe com o propósito de ser comunicada, e a consequência direta do aumento da quantidade de informação é o aumento do nível de comunicação.

     Não espanta então notar que as principais indústrias e tecnologias dessa nova era são tecnologias de comunicação: televisão, telefonia celular, internet, mp3, redes sociais, etc.
     O ápice atual desta era se representa muito bem pelo tamanho da importância da internet na vida moderna. A intensidade da comunicação gera demanda por comunicação eficiente. E a necessidade da comunicação eficiente evolui a língua.

      Essa necessidade de eficiência sempre existiu, e sempre evoluiu a língua.
      No tempo dos homens pré-históricos, nos primórdios da descoberta da linguagem, a comunicação era menos complexa: vocabulários menores, palavras com poucas sílabas. A necessidade era a de expressar uma ideia e reagir-se a ela rapidamente. A linguagem devia ser eficiente para tratar de problemas em tempo-real, situações de perigo, avisos. Quando a tribo aumenta, surge maior necessidade de substantivos, para diferenciar as pessoas.

     Quanto mais items, objetos, produtos e ferramentas passam a fazer parte do dia-a-dia dessas pessoas, com o aumento de seu nível tecnológico, maior a necessidade de novos substantitos - e então, eles aumentam de tamanho; passam a ter mais sílabas; novas fonéticas são convencionadas.
      Naturalmente pode-se imaginar que as necessidades no decorrer da evolução dessas tribos eram mais básicas no início, se tornando mais complexas com o passar do tempo, da mesma forma que a pirâmide de Maslow estabelece prioridades crescentes.
      Portanto, os conceitos de uso mais corriqueiro deviam ser também os mais necessários. Esses conceitos acabaram por "reservar" para si as palavras com menos sílabas. Substantivos e conceitos com ordem progressiva de importância foram ocupando as posições subsequentes que possuíam o  menor número de sílabas disponíveis.

      Da forma semelhante, certos conceitos são compostos por conceitos de mais baixo nível. Dessa forma é natural que se reutilize esses conceitos já existentes para expressar um novo conceito. Isso facilita a compreensão; é eficiente, portanto. E assim surgem os prefixos e sufixos.
     Até mesmo em linguagens modernas de programação de computadores esse conceito de reaproveitamento existe: "classes" de objetos encapsulam conceitos; essas classes podem "herdar" propriedades de outras classes. É uma evolução natural, porque aumenta a eficiência da expressão da linguagem.

      E é a necessidade de uso dos conceitos que filtra as palavras que sobreviem (teoria evolutiva tradicional); e quando existe palavras com menos sílabas sobrando, o conceito candidato mais importante irá se apropriar dela. As palavras que necessitam maior frequência de uso são as mais curtas (pronomes, por exemplo). Mas obviamente existe um delay na velocidade de readaptação da linguagem: porque existe uma "convenção"; a convenção se constrói por costume, hábito - e leva tempo, portanto.

      A linguagem evolui para ser eficiente.

      Mas cada grupo étnico, vivendo em locais diferentes, possui também diferentes "necessidades de expressão". Os que vivem em locais frios possuem o conceito de "neve" como algo importante. Os que moram em áreas desérticas provavelmente possuem "água" como algo muito importante, e talvez "sol" e "sombra" também.

      As tribos evoluíram tecnologicamente e dessa forma aumentaram seus tamanhos, criando eventualmente vilas e cidades. Passa então a se criar devagar o conceito de "nação". E a cada aumento dos grupos, maior competição entre grupos acontece: guerras. Os grupos étnicos mais fortes acabam determinando a linguagem convencionada. E dado o delay imposto pelo costume, conceitos importantes para a etnia dominadora substituem palavras da etnia dominada, e isso pode explicar a "ineficiência" absoluta da linguagem, no sentido de que não existe uma linguagem absolutamente eficiente para todas as necessidades humanas. Ou seja: em sua maioria, a linguagem é eficiente; mas existirão palavras que podem não parecer tão eficientes.

      A população cresce e mais tarde surge a necessidade de se registrar números, astros, acontecimentos. Surge a linguagem escrita.
      E ela surge em dois sabores: podemos registrar conceitos, ou podemos registrar fonemas. A primeira é mais eficiente para leitura. A segunda é mais versátil em termos de reuso; o vocabulário é mais sucinto e quantidade de regras expressando suas relações são menores.

      Tome-se como exemplo o mandarim e o inglês. No mandarim os textos são mais curtos, e a leitura é mais rápida. No entando, necessita-se maior treinamento, pois há mais regras e há mais representações para se aprender. No inglês os textos são maiores, mas as regras e representações são mais generalistas. Pode-se aprender o sistema mais rapidamente. São dois modelos distintos de eficiência competindo entre si. Eventualmente um dos sistemas irá vencer, - combinação de eficiência com poder étnico. E quando o poder étnico é determinado pela eficiência da comunicação, cada vez mais, como na era da informação, a linguagem mais eficiente tende a gerar maiores condições de poder ao seu povo.

      Da mesma forma que não existe eficiência absoluta na linguagem falada, não existe também na linguagem escrita. A linguagem não pode ser ao mesmo tempo a mais rápida de se compreender e a mais rápida de se pronunciar; a mais poderosa de se expressar e a mais genérica de se registar; etc. Qual seria uma convenção de linguagem mais equilibrada para as necessidades atuais? Poderíamos criar uma?

      A necessidade contemporânea é transmitir e compreender a maior quantidade de informação de forma mais rápida e precisa possível. E nesse sentido, especialmente quando a internet catapulta essa necessidade, surge notóriamente no meio virtual a evolução do poder de expressão da linguagem. Atualmente podemos expressar também "sentimentos", através de emoticons. Podemos representar que estamos gritando, com letras maiúsculas. Outras convenções do tipo já eram presentes em textos: texto entre aspas pode indicar pensamento, ou a fala de outrém.

      Na internet, nos sms, em instant messages, busca-se a eficiência. Palavras de uso muito comum são convencionadas massiçamente. Você é "vc". Praticamente não há sobreposição com qualquer outro conceito. E é mais eficiente uma palavra de 2 letras do que uma de 4 letras. Essas convenções passam a aparecer em textos diversos, e eu acho ótimo que seja assim! Os defensores das normas, na minha ótica, são produtores de "delay" na evolução da língua.

      Nesses casos, gosto muito de dizer "Entendeu? Então não complica...".

24 maio 2011

Amor de louco

Um amor transcendental,
Um amor de louco!

Lembrança rota de um pedido rouco
Seguiu-se ao sopro de um suspiro fraco...

Da prece magra do amor de um louco,
Ouviu-se à lua uivar um lobo.

(Somos lobisomens todos nós um pouco...)

Quem nunca ousou em suspirar - de bobo -
Pedindo muito a quem dispunha pouco?

-- João Otero - de 2004 à 24/mai/2011

Na Beira do Universo

Esse era eu, uns anos atrás, pensando em como seria lá no final do Universo...

     Sou um determinista, e portanto avesso a todas as probabilidades quando transformadas em "lei" (como a física quântica ou a entropia, por exemplo - embora eu ainda as aceite bem se tratadas como ferramentais matemáticos, apenas).
     Mas gosto de manter sempre em mente que o limite de uma série qualquer é "quase o número", mas nunca "é" o número.
     Gosto de manter sempre em mente que apesar de não podermos determinar simultâneamente a posição e a velocidade de uma partícula, não quer dizer que essa particula não possua de fato uma posição e uma velocidade únicas em um dado momento.
     E que por mais que não haja computador capaz de computar todos os a-toms do universo e descobrir seu próximo estado, não quer dizer que o conjunto de todas as coisas não possua um único e bem determinar próximo estado, consequência direta do estado presente e das leis universais que as regem.
     E sendo assim, como seria lá na beirada do universo, que se expande, se expande...?
     Digamos que ele parasse de expandir: "batesse na borda". E começasse a voltar: exatamente para o último estado antes de bater lá na borda...
     O tempo, que para nós parece linear, continuaria uma sucessão de "estados" instantâneos do universo. Mas agora ele estaria andando de trás para frente, voltando aos exatos estados anteriores, numa sucessão idêntica e contrária à sucessão que o fez chegar na tal borda.
     ...E quando o universo todo se implodisse em si mesmo, chegando no extremo de concentração de partículas que não cabem mais umas nas outras, só teria o mesmo caminho original a percorrer, expandindo até hoje, expandindo até a beira do universo, e voltando para esse ciclo eternamente, num vai-e-vem eterno como um elástico.
     Minha ideia do universo provavelmente está errada. E eu nem quero pensar muito no assunto e nem estudar física, porque me frustra muito saber que jamais vou ter a resposta... Mas bem que essa ideia me deu um poeminha interessante:



Na Beira do Universo

Na beira do universo em tempo infindo
o tempo não queria mais correr.
De trás pra frente tudo veio vindo
e a morte começou a renascer.

Os raios alcançaram seu destino
- e ele não sabia o que fazer.
Os raios regrediram então seus brilhos
e os fótons implodiram ao florescer.

Com todo o infinito acumulado
no ínfimo corpúsculo do nada,
o cúmulo improvável aconteceu:

O cosmo já não tinha mais passado!
...A lei da entropia derrubada,
com morte ao mesmo tempo em que nasceu.

- João Otero - 18/out/2005 --

23 maio 2011

Grávidas



graves grávidas grisalhas
grunhem grossos gritos...
gordas gargalhadas depois!




Veja outros poemas da coleção Letras

-- João Otero - 28/ago/2001 --

Borboletas




                               bárbaras borboletas!
                               belas bordas bordadas,
                               balançando brilhantes brumas...
                               bélicos brutos bradaram:
                               ...borboletas baleadas no chão.




Veja outros poemas da coleção Letras

-- João Otero - 1/mar/2005 --