30 abril 2014

Folhas - Parte 1





O olhar ouriçado. Quase que se acendia tal duas luas-cheias estampadas no rosto maravilhado,
fazendo ciúmes às estrelas que, enquanto crescia o olhar, iam se apagando e sumindo no céu...
As luzes de todos os lados parece que se ajuntavam mirando num ponto só.
E mais brilhante que a esperança daquele olhar, só ela - aqueles doces fios dourados, suspensos no tempo e iluminados pelo foco de atenção irradiante do menino.
Quem passasse por ali e se atrevesse a lançar atenção àquele olhar estático perdido no nada vazio daquela calçada enfolharada, nada compreenderia daquela cena noturna de outono. Não perceberia que era cena de veranico ensolarado. Não enxergaria o calor das duas mãos unidas daqueles anos atrás que não estavam mais ali.
Tampouco enxergaria o menino.
Veriam um velho. Um sorriso semi-aberto. Uma curiosidade passageira. E seguiriam seu caminho sem dispender muito tempo nem compreender coisa alguma.
Talvez pisassem nas folhas secas da calçada sem nem notar as outras que redemoinhavam ao lado.
O redomoinho de folhas secas iluminado de olhar saudoso de um menino ainda vivo naquele peito tão velho.
Foi naquele veranico...

(continua...)




-- João Otero - 30-abr-2014 --

29 abril 2014

Sonolentitudes




Sonolentitudes quando acordormi...




-- João Otero - 29-abr-2014 --

27 abril 2014

Em família


O a e o i, juntos, num suspiro desvelado
(a falsa dor duma gata no cio,  o ardor e o parto - e algo nascia)

E todas elas a, i, e e o em família,
Entremeadas na multidão que avançava a paus e pedras

E lá atrás, em meio a elas, vinha o u carregado
(e quem lhe dava a mão, lhe encorajava: não trema!)

E o a e o o, tinham o mesmo til

(...essas vogais são cheias de parênteses)


-- João Otero - 27-abr-2014 --

Sósias



                                               Sapeca, serelepe... sonhadora
                                                    Sabia sorver solitude

                                          Somatizava sorrisos salgados
                                                    Sob as mil sósias 
                                                                           de si


                                                                             Veja outros poemas da coleção Letras

                                                                             -- João Otero - 27-abr-2014 --



15 abril 2014

Nada como pizza grátis!
...Quer dizer, como. Muito.

12 abril 2014

Lembre-se de que você mesmo é o melhor secretário de sua tarefa, o mais eficiente propagandista de seus ideais, a mais clara demonstração de seus princípios, o mais alto padrão do ensino superior que seu espírito abraça e a mensagem viva das elevadas noções que você transmite aos outros. Não se esqueça, igualmente, de que o maior inimigo de suas realizações mais nobres, a completa ou incompleta negação do idealismo sublime que você apregoa, a nota discordante da sinfonia do bem que pretende executar, o arquiteto de suas aflições e o destruidor de suas oportunidades de elevação - é você mesmo.
Francisco Cândido Xavier

07 abril 2014





Mais uma dobrinha...
Disse o olho à vida, silencioso
Enquanto aprendia a contar o tempo



-- João Otero - 7-abr-2014 --

06 abril 2014




Eu quero, do meu amor, que nunca deixe-me de ser 
um tiquinho de ilusório; de exageradamente terno...
E que esse nunca seja tão constante e eterno
Que torne em mim o que há de mais real
em belo



-- João Otero - 6-abr-2014 --

05 abril 2014




Uma resposta imediata, curta e compreensível: 
Pressa.

Se satisfatória é um atributo desejado, então escolha apenas 2 dentre os outros 3 atributos iniciais.


-- João Otero - 5-abr-2014 --

A Camisa


No fim, a vida adulta não muda muito da infância: o desafio é chegar-se ao final do dia ainda limpo.
Até dá pra sujar o rosto, levar uns tombos, sujar as mãos. Mas a camisa tem que estar limpa. Manter a camisa limpa é vencer.
Na infância, suja-se de comida. Na vida adulta, são nossos valores, nossa consciência.
O sapato até pode ficar sujo de lama, pois afinal às vezes é difícil cuidar-se onde pisa (agora que há tantos anos já aprendemos a olhar sempre pra frente...). 
Mas ao final do dia, o desafio continua sendo manter a camisa limpa. A camisa tem que estar limpa.



-- João Otero - 5-abr-2014 - ao som de Lorde, Lollapalooza Brasil --

04 abril 2014




Dê dois parênteses a um poeta e ele desvia o fluxo dum rio (ah!, o amor...).


-- João Otero - 4-abr-2014 --

02 abril 2014

Provérbio






                           Cada um sofre com a enxada que tem...








-- João Otero - 2-abr-2014 --

O fusca azul





O fusca azul da parede da revistaria
até parece que chorava ser nostalgia...

Acho que foram as lágrimas
que me chamaram atenção.

...Algumas lágrimas até nos deixam mais bonitos.


-- João Otero - 2-abr-2014 --

01 abril 2014

Quando a vida acontece



A vida acontece no passeio entre o viaduto e o caminho da rua das flores

A vida desacontece na traseira do caminhão-de-lixo ao dobrar-se a esquina

A vida acontece na gota de café que respinga em forma de um coração

A vida desacontece com a garçonete limpando a mesa

A vida acontece com o sorriso que escapou do teu rosto e abriu o sol

A vida desacontece num sinal mal-interpretado, numa tempestade, 
num copo d'água, 
num tchau,
Nas costas viradas, de repente, por nada, sem entender-se o porquê
Na poça d'água que não era pra estar ali
No bonde que atrasou,
No olhar que não viu,
No pensamento que jamais soube que era correspondido


A vida desacontece é quando a deixamos acontecer



-- João Otero - 1-abr-2014 --


Bruto





O bruto lapidar que aflora o brilho

Translúcido - de opaco, flácido, absorto

E ao lapidar, o caco e o joelho torto

E o estribilho em ritornelo na beleza que labuto...

Ao retinir da pedra percebo que é fajuto

Um sonho que se leva a vida desfiando




-- João Otero - 1-abr-2014 --


Minha infância foi tão boa!
Tão boa...

Maldita infância.
Que contrapeso de vida.

-- João Otero - 1-abr-2014 --
É com olhos, não com a mão, que se escreve poesia
Escrever é perseguir o olhar à maestria
Só que ouvidos, línguas, mãos,
narizes e coração, têm olhos também!
Só não vêem os que não vêem.

-- João Otero - 1-abr-2014 --
Ufa! Salvei o dia.
Fiz uma piada.

-- João Otero - 1-abr-2014 --