eu faço um nada,
muito ocupado,
de dia todo
e quando deito a cabeça
num travesseiro
que não a faz parar
e que me avermelha os olhos no escuro
(só porque dali a pouco
já vem de novo o dia
e eu preciso continuar)
então eu conto um dia a menos
e somo um pouco de esperança
e talvez um avanço
e quem sabe um desfecho
depois de amanhã
num progresso cada vez mais distante
que se dilui no tempo
e parece impossível
o dia passou
a noite sumiu
e eu continuo aqui
com a próxima ideia
e a pálpebra escura
de olhar avesso
-- João Otero --