13 dezembro 2010

relógio

Meu relógio biológico tá estragado!

pensamento: sábio

Já que eu não posso ser burro, que possa ser sábio...

pensamento: ironia

A ironia é o argumento dos fracos.

08 dezembro 2010

À Madrid

À Madrid

Pensei em te dar uma flor
mas uma flor não servia,
porque as pétalas não cantam
como encanta a poesia
que brotou do teu olhar
que me tem com simpatia,
que aflorou a aflição
de um amor que eu nem sabia...
Pensei em te dar uma flor,
mas te dei minha poesia...
Eu só quis que tu soubesses
desse amor que eu sentia

-- João Otero - 8-dez-10 --

06 dezembro 2010

Saudade Degringolada

Se eu sentisse saudade delaseria de cor amarela
Dessas, de fim de tarde...

E sopraria uma brisa
dessas que afloram cismas
censuradas da verdade

É... Seu eu tivesse essa saudade,
seria minha!
E não dela! - a infeliz dessa cadela -
que não era quem eu tinha




ps:   :-P   lamentável... hehe ;-)

-- João Otero - 6-dez10 --

24 novembro 2010

Matei uma Barata

Matei uma Barata

Agora há pouco matei uma barata.
Mas não era uma barata qualquer. Era uma ba-ra-ta; pré-histórica; quase 10 centímetros...
Quase um mamute!

Eu já tinha visto essa nojenta outro dia.
Tentei duas chineladas, mas não adiantou. A barata se jogava da parede - literalmente - bem na hora que eu ia acertá-la.
Deixei a janela aberta, com a esperança de que ela tivesse querendo ir embora.  Como não a vi mais por uns 2 dias, assumi que ela tinha colaborado com a minha situação.

Foi aí que eu li a notícia de uma pesquisa recenta da UFRJ, onde diz que a inversão térmica do verão faz as baratas saírem dos bueiros e procurarem locais mais frescos: isso mesmo, nossa casa. É parceiro... quando Murphy ataca, Murphy ataca mesmo.

Já não chega o nojo - o completo asco que me dá só imaginar a imagem de uma barata; hoje,  eu, revirando meus papéis, dou de cara e quase que encosto numa!

Pra conseguir matar uma barata, você tem que pensar como elas.
Se um cara com muita raiva de mim estivesse me caçando impiedosamente, e eu fosse uma barata, para onde eu iria? Obviamente para o buraco mais escuro e difícil de cavocar possível, tão logo esse maluco desse a primeira chinelada.

A operação se deu mais ou menos assim: primeira coisa, retirar todos os papéis, livros, aparelhos, e pilhas e pilhas de coisas que estavam naquela sala (recém me mudei pessoal), em volta do balcão-hotel apropriado pela Barata.
Levei tudo pra sala ao lado. Ensacolei todas as bugigangas soltas espalhadas ao redor, pra não dar margem à obstáculos me atrapalhando.
Arredei todos os móveis, para não deixar lugares inalcançáveis.
Ela tinha entrado numa caixa. Deixei a caixa para mexer por último.
Enfim tentei matar a desgraçada, mas ela fugiu ao redor daquele balcão umas quatro vezes; todas tentativas de assassinato frustradas. Ela corria por todos os lados, se enfiava em todos os buracos e ficava até de ponta-cabeças nas reentrâncias do móvel.

Bem, pensei: agora que eu tinha movido tudo para a outra sala, essa outra sala automaticamente teria se tornado o lugar preferido para a próxima hospedagem noturna da filha-da-puta da Barata. Eu já tinha me resignado. Comecei a guardar meus livros e ajeitar melhor as coisas, para pelo menos diminuir essa probabilidade.

Pra fazer uma ideia do tamanho da barata, sabe como eu fui conseguir matar a infeliz? ...Eu estava levando os livros da segunda sala pro meu quarto, quando ouvi um barulho naquela primeira sala.

O que eu ouvi era a barata carrendo! A barata era tão grande que dava pra ouvir os "passos" dela!
Peguei a infeliz quase na porta, indo justamente para a sala do lado!

Eu não teria conseguido pensar tão bem como uma barata nem que eu fosse uma!

Teve mais um corre-corre, mas dessa vez em campo aberto: salve Sun Tzu, senhor da guerra, e todos os aprendizados que ele me deu sobre "o terreno"!
A barata dessa vez não teve a menor chance. (Apesar de eu ter fechado os olhos; porque aquela gosma é foda...)

E a tal pesquisa da UFRJ ainda fica do lado das baratas, vê se pode?!
Ah, é comida do passarinho? Ah, faz parte da cadeia alimentar da aranha?
...Eu quero mais é que se fodam todas as baratas!
Os passarinhos e as aranhas que virem vegetarianos, ué! Não está na moda mesmo?!

Finalmente, achei o abridor de vinho que eu tava procurando antes disso tudo.
A lei da compensação pelo menos fez gelar um pouco mais o vinho que eu deixei no freezer.

Um brinde às baratas mortas. Saúde pra mim!

-- João Otero - 24-nov-10 --

23 novembro 2010

música: A Rima

A Rima
(samba)

Você que está aí tão distraída
nessa cadeira de madeira envelhecida
me ouvindo cantar e beijando uma bebida
daquelas fortes, só pra esquecer da vida -
vem me beijar...

Você que me parece tão doída
venha pra perto e se escore cá num canto
pra desfazer essa amargura entristecida
vindo provar o dôce mel dos meus encantos
enquanto eu canto...

            Você não tenha pressa de saber
            daquela rima em que eu falo de você
            como se fôsses minha bela, minha linda
            a perdição da minha vida, o meu dôce
            como se fôsses...

         (ai, aiai, aiai, aiaiai, aiaiai... como se fôsses)
         (ai, aiai, aiai, aiaiai, aiaiai... a minha vida e o meu dôce)

Você que em tristes olhos acolheu
os lentos sôfregos arranhos de um violão
enquanto eu toco o seu olhar com os olhos meus
dentro dos seus me vejo só você e eu
pelo salão

            Você que se encontrava sem abrigo
            já tem meu peito como seu novo recanto
            Te quero tanto, mesmo quando eu não te digo
            você comigo é a tal rima que reclamo,
            pois já te amo!

         (ai, aiai, aiai, aiaiai, aiaiai... foi só te ver e eu já te amo!)
         (ai, aiai, aiai, aiaiai, aiaiai... foi só te ver e eu já te amo!)

-- João Otero - 22-nov-2010 --

31 outubro 2010

Anjo que passa

venha meu anjo,
e dance o teu ventre
por entre essas mesas
e seja a beleza
por entre essas taças
desalma-me o dia
desarma-me o punho
desfaça a tristeza
que ia em meu cunho

(e eu sigo vidrado no jeito que passas...)

venha meu anjo,
com tua silhueta
sineta dos sonhos
que eram tristonhos
até teu olhar
dilata-me o instante
destrata-me o beijo
que eu pressuponho
ante o teu desejo

(...mas não me censures só por te beijar!)

-- João Otero - 31-out-10 --

28 outubro 2010

Loucura

cada qual mulher tem sua vil loucura
e eu, com meus cascudos, não entendo nada...
numas sei que fui a loucura provocante
mas de outras eu tive a loucura provocada

vêm com apetrechos, cheias de frescura
uma, de varrida, me deixou por nada
mas depois voltou, cheia de ternura
sendo inda mais louca e se jurando fada

cada qual mulher, uma loucura errante;
cada tal loucura que se faz por nada...
uma, que me amava, se mentia pura
outra, nao me disse e me perdeu na estrada

-- João Otero - 24-28/out/10 --

04 outubro 2010

Ouvi uma pérola hoje: "o que estraga a boceta é a mulher que vem junto..."

15 setembro 2010

As Vogais dos Meus Olhos

E depois de rimar essas vogais
que despencam dos meus olhos

com um "vai, meu pai... descanse em paz"

queria que as lêsseis de traz pra frente
e me dissésseis:

"ia, meu filho... não vou mais!"

...Mas eu sei que tu não podes me esquentar
outra vez com teu beijo

se da boca fria o hálito nem sai

Tenho então meus olhos soluçando com as vogais
que eu não queria

rimas de perfeita companhia
ao resto de esperança que me trai

-- João Otero - 26-ago/15-set-10 --

05 setembro 2010

Chorei hoje.

15 agosto 2010

Houvesse figura

é tão doído
um parto de letras
num buraquinho que nem se consegue saber
pra se dizer o que nem lá se tem consciente
...essas palavras que eu não consigo achar
entre dois-pontos e um parêntese aberto

-- João Otero - 16-ago-10 --

pensamento: E viveram felizes para sempre

"...E viveram felizes para sempre" é algo que um autor preguiçoso escreveu pra não ter que continuar a história em outros livros... E desde então, os demais autores apenas copiaram.

05 agosto 2010

pensamento: rosas

Nem tudo é um mar-de-rosas... Mas uma rosa, umazinha, já não é um mar...?!

29 julho 2010

Tudo o Que Eu Posso

Tudo o que eu posso
se configura num bem-querer
num avaliar
num decidir

Tudo o que eu posso
se transfigura em não-sentir
num quebra-mar
num "venha aqui!"

Tudo o que eu posso
é bruma branca em dia de sol
é folha seca em um outono
e algum perfume inevitável
na primavera

Tudo o que eu posso
quem me dera!
era querer ser
um pouco mais que esse sofrer
em querer ser o que eu não posso

-- João Otero - 29-jul-10 --

25 julho 2010

Hoje contei uma verdade.

19 julho 2010

Hipocondríaco e Sintomático

Hipocondriaco e Sintomático

Eu, hipocondríaco, sintomático, quase transformo em febre reumática uma mera streptococcus. Não é que, preocupado em sufocar de dor, acordo eu e entro na internet pra descobrir do que se trata minha chaga; e horas depois, ao acordar novamente no meio da noite, meu dedão do pé tá inchado, doendo, pulsando, como se eu tivesse chutado a quina do balcão - ou como se eu tivesse mesmo é com uma febre reumática?!

Aos hipocondríacos como eu são aos que mais funcionam os placebos, e aos que menos servem os homeopáticos. Pois é só dizer que há uma chance remota de um efeito colateral para ele virar sintoma líquido e certo; e é só dizer que "leva tempo, mas funciona...", que o tempo esse é exagerado, e vira "nunca" imediatamente!

Eu, hipocondríaco, sintomático, tenho flashback e entro em nóia até com erva natural. ...Nem me arrisco em nada um pouco mais sintetizado!

Eu, hipocondríaco: ao se me despontar um novo amor, já sei, de prévia sabedoria que ele vai durar pouco; que eu vou me entregar de todo; que eu vou sofrer muito... Não, um pouco mais do que isso. Muito mesmo. Já sei que vou ter pano pra manga pra minha poesia por alguns dias. Que o mundo vai acabar e todas aquelas coisas dos hipocondríacos...

E aí eu ligo, escrevo, imploro, me abro como nunca, digo que amo... E no seguinte segundo, "puff" - ela escapuliu! "Eu não disse?!"

...Eu: sintomático!

-- João Otero - 19-jul-10 --

Uma Geada

E a manhã alva dos campos de minha terra
Se me tem a camuflar uns lírios, a me apagar as relvas
Anunciada pelo um vento minuano, sempre repentino e forte,
A meio ano
Se me tem trocando o pano pela manta grossa e um pala
Ela que vem e me cala, contragosto, em branca tez
Ela que vem e me pára, num calafrio cortês
Ela que reclama tudo, e cobre tudo, dos meus olhos ao meu pêlo
Mas por baixo dos véus que cegam
Eu sei que brilham as relvas dos meus campos outra vez
E eu aperto meu canto, com nó de lenço vermelho
- Com cheiro de sangue, de guerra -
Para cantar as belezas de minha terra, de onde não me arredo
Por mais judiado que eu seja ao passares
Dama alva, linda... horrenda...
E o meu riso é porque eu sei que não há vento que se prenda!
Te mostro os dentes pois sei que logo após as coxilhas
Tenho o perfume das negras, e a pele-cuia das índias
E os campos que eu sempre quis
Não há pois como eu me renda
A uma passageira prenda
Se no seio da coxilha
Me aguarda tudo o que eu preciso
Para ser feliz

-- João Otero - 19-jul-10 --

09 julho 2010

A minha espera

E eu to ainda pra ver quem vai se abrir num gozo para a vida, encarando num êxtase eterno a duraçao de cada segundo, e viver uma plenitude de sensibilidade sem fechar-se logo em seguida dentro de si e de seus medos privados. Eu to ainda pra ver quem fará sexo com a vida. Eu to ainda pra ver quem vai trocar aqueles poucos segundos de conjunção carnal pela sensibilidade envolvente e mais aflorada de algo mais transcendente. To ainda pra ver quem vai fazer aqueles parcos segundos durarem pra sempre.

07 julho 2010

Melancolia

A melancolia se me dá em alguns tons de amarelo misturados com saudades...

22 junho 2010

As Bocas Banguelas

As bocas banguelas têm mais sorrisos
As bocas das crias, dos velhos, dos pobres
Se vestem de um manto mais nobre
Do que esses de esmaltes lisos

Não têm caninos tão fortes,
Não refletem externos brilhos,
Não prendem a feroz língua

A boca banguela não míngua seu juízo
As bocas das crias, dos velhos, dos pobres
Não amarelam um sorriso...

-- João Otero - 22-jun-10 --

16 junho 2010

texto: Meias Brancas

Meias Brancas

Hoje pela manhã eu descobri sem-querer a solução para o problema do lixo no mundo: meias brancas!
As meias brancas têm a propriedade de sumir com o passar do tempo. Se acondicionarmos todo o lixo do mundo dentro de meias brancas - vupt! - solucionamos o problema do lixo!
...Minha última teoria é a de que as canetas Bic são fabricadas com meias brancas embutidas. Mas é uma hipótese ainda necessitando observações adicionais.
(Isso se elas não sumirem antes...)

-- João Otero - 16-jun-10 --

10 junho 2010

Olhinhos Minguantes

Olhinhos minguantes -
Como os ciclos enluarados
Dessas minhas paixões retumbantes
Que se camuflam volta e meia em mim

No ocidente, lá praqueles lados...
Onde é renascente - flagelado mas sorridente -
Este meu velho coração cansado
Destas agruras sem-fim

Que vão e vêm, e vêm e saem...
Vazantes como a maré
Perene ciclo constante de novas dores poentes
Mas a espumar-me novamente o peito e a reforçar a minha fé,

...Lá: olhinhos de dó, de pena, de graça;
meiguice; cachaça na mesa dum bar
Tu, extraviadas num canto,
E eu contemplando de longe
À duas mesas de distância, o teu olhar

-- João Otero - 9-jun-10 --

09 junho 2010

Muito

E depois de muito tempo passado
O que eu faço se eu descobrir
Que o mesmo tanto de muito passado
É o mesmo tanto de muito que descobri
Estar gostando ainda muito mais de ti?

-- João Otero - 9-jun-10 --

29 maio 2010

Desencantamento

...E então, querida,
Serás esquecida
Como uma foto amarelada e esmaecida,
Como uma ninguém
Como mais uma formosa entremeada num harém
Serás tão só mais um refrão que um dia eu já cantei
Tu serás quem me esqueceu, e a quem esqueci também
Tu serás rastro de névoa nos quintais de minha vida
Tu serás uma lembrança em alguns cacos repartida
Tu serás doce mistério
Que só o meu passado tem

-- João Otero - 4-29-mai-10 --

22 maio 2010

Da procura

Vende-se tragédias!
Tragédias feitas de pó e vento
Que contrapesam êxtases imerecidos
Vende-se tragédias que complementam vidas

-- João Otero - 22-mai-10 --

Porque pediste pra eu falar de cores (Amarelo)

                                  Eu e os ébrios - braços dados numa saudosa harmonia
                                  Sob o reflexo dourado do luar fraterno já minguando mais um dia
                                  Brindo! com mais cinco dedos de gelada alegria
                                  À sapiência deste olhar impreciso
                                  Que vê em dobro a beleza
                                  E que duplica os sorrisos dessas bocas tão macias!


Veja outros poemas da coleção Cores

-- João Otero - 22-mai-10 --

14 maio 2010

Pontacabeça

Prólogo:
Eu sei que meu português ficou uma bosta neste texto. Mas não importa muito. A mensagem é o mais importante.



Pontacabeça

Eu olho em volta e vejo tudo muito raso, muito rápido, muito superficial, muito efêmero.
Relacionamentos fast-food, pegos numa caixinha em uma balada da moda qualquer, e largados em alguma lixeira 15 minutos depois.
Todos pegando todos, e ninguém lembrando de ninguém.
Namorados que não se vêem no sábado, que preferem sair com os amigos. Que não sentem falta um do outro.
Vejo beijos fazendo fila na boca de qualquer um/uma...

Vejo a ostentação sendo usada muito eficazmente como uma arma na busca por sexo... E vejo pessoas caindo nessa! O ingresso de tanto, o passe que é VIP, o dono de tal empresa, o "amigo" influente, a bebida mais cara, a casa da moda, as roupas de marca, o carro mais caro...

Eu vejo a sinceridade virando algo conveniente e circunstancial: não ouço mentiras, mas tampouco ouço as verdades, pois elas são escondidas.
Eu vejo a falta de franqueza; a falta do vou-dizer-na-tua-cara.

Eu vejo a falta de envolvimento, despreocupação com os sentimentos alheios: vejo um jogo de conquistas, e os sentimentos virarem troféus.
Eu vejo a busca pelo prazer rápido, descomprometido, descartável.
Eu vejo relacionamentos tapa-buracos, convenientes para preencher as happy(dead)-hours pós trabalho.
Vejo pessoas se comunicando online num domingo, estando na mesma cidade, estando às vezes na mesma sala...
Eu fico triste vendo as pessoas se tratando e sendo tratadas como joguetes.
Amigos amarelos; máscaras sociais; joguinhos sociais; comportamentos subliminares.
Eu vejo todas essas coisas em excesso, dia após dia. E me falta o que preencha a minha alma. E duvido que essas coisas preencham alguma alma, aliás.

Eu sinto pena pelas pessoas que agem assim; e que de fato acreditam (isso é o pior) estarem fazendo o melhor para si. Pena porque talvez nunca descubram de verdade uma felicidade mais longa.
Eu vejo pressa em ter-se o que não importa, e paciência demais, morosidade demais em se buscar as coisas que importam. Todos querem status, carreira, dinheiro; ninguém quer música, companheirismo, risadas, jantar em família...
Todos perguntam "O que você faz?"; ninguém pergunta "O que você quer fazer?".
Todos perguntam "Onde você mora?"; ninguém pergunta "Aonde você vai?".
Eu vejo conformismo, e isso me indigna...
Valores invertidos. Mundo de pontacabeça.

Eu vejo escravos da vida estudar-trabalhar-casar-ter-filhos; escravos das normas; escravos do que a família-amigos-sociedade vai pensar; escravos do conformismo das coisas-que-são-assim-e-não-vão-mudar.
Eu vejo pessoas desistindo de tudo muito fácil, pelas mais esfarrapadas desculpas: desistindo dos sonhos, desistindo de uma paixão, desistindo de uma aventura, desistindo de um amor. Mentem à si mesmas.

Eu vejo pessoas desacreditando que a bondade existe em maior oferta no coração das pessoas do que existem a sacanagem, a malandragem, a maldade, o desrespeito.
Isso me lembra um pouco o fundamento do terrorismo, sobrevivente pelos noticiários da noite ou através das páginas policiais de jornal... Porque embora haja sim sacanagem, malandragem e maldade, tudo isso é muito pequeno, mas causa um impacto muito grande.
As pessas mudam de comportamento porque amplificam uma percepção negativa muito além do que deveriam. As pessoas mudam de comportamento porque passam a sentir medo demais. E todos, aterrorizados, ficam imóveis. Rugido de um tigre: pessoas imóveis! Situação adversa: pessoas imóveis! Terrorismo: pessoas imóveis! Medos, medos, medos: pessoas imóveis dentro de si; pessoas egoístas; pessoas que não se deixam levar. Merda de cérebro que funciona assim.

E eu vejo muitas pessoas com medo: de sofrer, de se entregar, de persistir, de se arriscar... Morrendo sem saber. Vivendo sem sentir. Sentindo até, mas muito pouco; muito menos do que poderiam... E por que? Porque têm medo. Não há como sentir o máximo sem que seja se arriscando ao máximo também.
Mas o medo de sentir-se mal é maior do que o benefício de sentir-se bem, paradoxalmente.
Isso não entra na minha cabeça: como alguém prefere o não-sentir ao sentir-se muito bem, só por existir um risco de sentir-se mal?! Zumbis... Zumbis é que não sentem! Sinto como se tivesse nascido no lugar errado, na época errada.
Que graça tem viver uma vida que um dia acaba - sempre - se for só pra deixar ela passar pela gente?! Sentir-se mal, que seja, não vale mais a pena?! Sentir-se bem, não vale o risco?!

Só a coragem enfrenta o medo. Só a fé - que é acreditar por acreditar, sem ter certezas - é capaz de gerar coragem.
Falta fé.

Eu só quero dizer que eu não faço parte dessa merda.
Um contra-argumento seria me perguntar se eu sou feliz. Não sou; e é cada vez mais difícil. Mas eu ainda tenho fé.
E quando eu for, vai ser 100%, não pela metade.
A minha fé é que haja mais alguém que também não faça parte dessa merda toda... E se houver, não diga, simplesmente: haja com um pouco mais de caráter, com uma pitada a mais de coragem. Terás assim ajudado o mundo a viver um pouco melhor. E terás me ajudado também.

-- João Otero - 14-mai-10 --

07 maio 2010

Teus Cabelos

Não há mais os teus cabelos pelo banco do meu carro...
Mas há um fiapo... Há um fiapo ainda aqui!
Desses cabelos que um dia eu conheci
Com as pontas de meus dedos

Desses cabelos que eu até senti
Uma vez o gosto, o medo...
O cheiro! - perfumado de vaidade

...Esse fiapo dos teus cabelos
se enosou na minha saudade

-- João Otero - 7-mai-10 --

06 maio 2010

Dias

Eu quero dias de 1 minuto...

05 maio 2010

Das duas coisas: Graças

Duas coisas que me vêm dos céus em desproporção extraordinária: graças!

Sementes

Nos sulcos das cicatrizes que me deste
Saí a plantar umas sementes...
(Há que se fazer, afinal, algo que preste
Com as coisas que acontecem na vida da gente)

-- João Otero - 5-mai-10 --

04 maio 2010

Passatempo

Minha cabeça, se afogando em horas-lixo -
Que são tão só esbanjadoras dos meus dias
Que um a um, e em penoso sacrifício
Que é tão dôce, qual o gôsto que eu lhe tinha
Disponho ao tempo - incinerante e compreensivo;
Vai se esquecendo e se ocupando até à tardinha
Da dor de um peito - lancinante e possessiva
Que só amanhã, depois do sono - quando venha
Volta a sofrer, mas já mais terna e esmaecida

-- João Otero - 4-maio-10 --

29 abril 2010

Dores

Me doem no peito uns amores...
De uns sorrisos, de uns olhares, de umas cores
Que tive - ou achei que tive
Como sinceros aos meus louvores
...E outros olhos (cheios de cores!)
...E outros lábios (cheios de amores!)
...E outros braços (cheios de flores!)
Passam nas ruas...
Enquanto meu peito - cheio de dores
Me tem doendo mais uns amores

-- João Otero - 29-abr-10 --

27 abril 2010

Promessas

...E as promessas não ditas serão as mais cobradas.

26 abril 2010

Escolhas

Não se pode ter tudo.
É inevitável: não se ganha nada sem se perder algo em troca.
Nossa esperança é ter um pouco de juízo e alguma sorte para decidir agora sobre as escolhas que se mostrarão as mais sábias no futuro.
E não há muito mais certeza na decisão de agora do que a que há num jogo de azar...
Nem sempre as melhores escolhas são realmente as melhores escolhas.
Certo, mesmo, é que nunca se pode ter tudo.
A fé, no final das contas, é só o que resta.

22 abril 2010

Poeminha ao vento

Se um vento assim qualquer te soprar ao pé do ouvido
Bem decerto que fui eu que sussurrou pensando em ti
Mas se ao toque dele, mudo, despertar-te a libido
Foi tão só um beijo meu que se perdeu por aí...

-- João Otero - 22-04-10 --

16 abril 2010

Inefável

Eu quero uma revolução, uma guerra,
Uma epidemia
Uma dor de verdade
Uma verdade mais crua
Uma poça de vômito no meio da rua
Um caco encravado na unha
E uma costela partida

Eu quero da esperança a cara triste,
Definhando um sorriso banguela;
E eu com o dedo em riste
Abafando uma saudade

Eu quero um punho em figa
Uma marca da mão estendida na cara
Um pontapé pontiagudo na barriga
Esmagando a realidade
Das verdades que qualquer um diga

Eu quero meu olho cerrado
Os cílios como espinhos encrustrados
Sobre minhas pálpebras ressentidas

E a minha liberdade teria outro gosto
Eu, desapegado de mim mesmo,
Indiferente à minha própria felicidade,
Descuidado de meu próprio rosto
Seria livre, enfim!, para até me ser cruel de mim,
Para até sorver o meu desgosto

E tudo o que me tivessem seria bom
Pois tudo o que eu quisesse, nem ia querer...
Porque de tanto ter, eu não teria nada...
De tanto ser, eu não seria pôrra de nada
Eu não teria pó, nem pena,
Eu não teria pedra,
Eu não teria estrada...

-- João Otero - 16-abr-10 --

07 abril 2010

Montanha Encantada

Montanha Encantada - (Diálogo Poético com Carlos Drummond de Andrade)

Enquanto mais alto ela ia,
mais encantada ficava
E nessa montanha dourada eu subia, subia...

Mas tinha uma pedra no meio do caminho.
No meio do caminho tinha uma pedra.

E enquanto eu descia rolando, devagarinho
menos encantado eu me tornava...

-- João Otero - 7-abr-10 --

06 abril 2010

"Palatável" não é lá muito palatável...

05 abril 2010

secret

SJJ2

Elegia da Minha Própria Morte

Logo eu comecei, fui vivendo a vida - e ela adoecia...
A cada dia a mais, um dia a menos me vinha
Quanto mais eu a usava, muito menos dela eu tinha

E ela me apressava,
Olhava pra mim e se ria...

Ria ela de Mim! A vida breve e fraca
A vida parca e rota,
A vida opaca e fria..!

Então desisti da vida e fui viver minha morte -
Como se mais moça, como se mais forte,
Como com mais gosto e muito mais sabida,
E com mais intuito
De seguir adiante
A sua própria vida...

E então - eu já morrendo - fui Eu lá rir dessa vida!
Ri dessa vida fraca, ri dessa vida fria
E fiz da minha nova morte uma constante elegia

Espiei as frestas, como se espia,
Coisas de curiosos aonde quer que eu ia
E me esfreguei em braços que eu nem sabia
Se eram tão sinceros - mas eu nem queria...
Fui sorver orvalhos que eu não conhecia
Desses que se brotam em erva-daninha

...E enquanto eu fui morrendo, nesse meu dia-a-dia,
A cada um dia a menos, um dia a mais eu tinha!


E um dia, tudo se foi...
Foi-se a vida, foi-se troça, foi-se a morte -
Que eu tive breve e sem-sorte -
Mas que foi muito bem vivida!

-- João Otero - 3-abr-2010 --

Despautérios

Eu tenho pressa de ti!
Vivo na ânsia do sempre!

E são eternos esses minutos ternos e carinhosos dos teus agrados...
...Mas são mais longas as infindáveis delongas desses teus carinhos sempre atrasados

E até espero por ti
Mas do meu jeito - presente

E quando não vens faz ausente o que eu mais quero - e já não te quero mais cá do meu lado...
...Mas quando não quero, consentes; do beijo mais puro ao mais profanado

Então desatino por ti!
Pairo na volúpia ardida

Eu, do teu lado, apressado
Tu, no teu passo, perdida

-- João Otero - 3-abr-2010 --

29 março 2010

Mais

Gostinho de sono em manhã de segunda-feira
Gostinho de cócegas com besteira
Gostinho de sábado marcado na próxima-vez
Gostinho de bis, gostinho de quero-mais
Gostinho de talvez

-- João Otero - 29-mar-10 --

28 março 2010

Sem grilhões

tive uma sensação tão boa,
assim,
de que Eu mando em mim...

mesmo que açoitado;

mesmo que num domingo mal-agradecido,

atrapalhado,
véspera de segunda...

e enquanto eu ouço essa chuva

cinza,
e percebo que eu ainda não tenho trinta...

antes que o meu presente minta...

tive uma sensação tão boa,

assim,
naquele instante,
de que minha vida pertence a mim

de que minha vida segue avante

-- João Otero - 28-mar-10 --

obs: o blogspot não respeita meus espaçamentos.

27 março 2010

Disso que eu tenho

Têm que vir como pitadas de tempero:
que apimentam o gosto e o cheiro;
nos fazem sentir melhor...
Mas não pode ser costumeiro
Porque, de massa sonsa e sem-cheiro,
vir-se a sentir o tempo inteiro
pode ser até pior...

-- João Otero - 27-mar-10 --

22 março 2010

O Escapulário Encantado

Era uma vez...
Um escapulário encantado
que uma Princesa me deu
Tornava o céu estrelado,
ensejo transformava em beijo,
abraço transformava em mel
Mas eu fui tão desastrado,
veja só o que aconteceu:
roubei o coraçãozinho dela,
que veio pra dentro do meu!

-- João Otero - 22-mar-10 --

Perfume

Tu és rosa que atrai e afasta
e com teus espinhos pontiagudos traça
uma vidraça pra esses teus perfumes

E a pele grossa desses meus costumes
não se perturba com os teus arranhos:
estilha uns cacos, sangra e te arrasta
pra fora dessa tua vidraça,
pra dentro deste meu tapume

A singeleza dessas tuas carícias
- delicadeza vil que manipula -
em nada hão de me comover:

dobrar-se-ão em ofensas omissas
na mão viril que ora te empunha
com a maestreza que só eu sei ter

-- João Otero - 22/mar/2010 --

Diálogo poético 1

Convite à Esperança


Maldita és tu Esperança!
Porque não morres primeiro?
Fazes-me esperar o dia inteiro por um céu mais anil...
Não vês que o que me têm é tão vil?!
Porque me deixas a esperar que se acalente minha alma?
Porque me fazes ter tanta desta horrenda calma?!

Porque não vais por primeiro ao invés de esperar tua hora?
Vamos juntos então - que seja - mas vamos agora!
Pra quê aguardar o enfado para só então ir embora?

Desgraçada tu és, Esperança mesquinha
Que sempre quiste ser última,
Quando ao menos uma vez, a última hora devia ser minha!

-- João Otero - 4/nov/09 --



Calma Desespero


Bendito és tu Desespero!
Por que não vês tua pujança?
Tu impulsionas o coração que só quer ser mais viril,
mesmo depois de ser taxado de hostil.
Tens fome de curar a dor que não se acalma
Enquanto eu espero o tempo de mãos atadas.

Saiba que do tempo sou preceito e do viés eu sou Senhora.
Impossível partir antes, pois ao equilíbrio damos forma.
Assim, cubro-te com o manto do consolo que me sobra.

Atrás de teus pés, Desespero, caminho.
Acreditando que tua dor vai embora sozinha.
Pois, se ficares por último, tua existência definha.

-- Nayara Oliveira - algum momento até 22/mar/10 --



visitem o blog da Nayara: http://retratopranana.blogspot.com/

21 março 2010

Relacionamento

Um de um, e dois somente!
Todo relacionamento substantivo é verbo - e intransitivo -
em que alguns estalos de paixão se tem.
E nesse meu vocabulário - arcaico, se quiseres -
a única dor existente é a morte de alguém...
Mas essa morte, de vida inteira, dura pouco:
somente até a necessária besteira
de o outro morrer também.

-- João Otero - 21-mar-10 --

19 março 2010

Meu Doce Suicídio

Decidi morrer do meu jeito, após o meu último pedido
E pedi para correr os riscos, de tudo o que me fez querer o suicídio
E enquanto eu me suicido - afogado no êxtase de tiradas de duplo sentido,
ou soluçando humor-negro embebido em vinho tinto -
veio um anjo branco de olhos claros segurar a minha mão e morrer junto comigo
E esta morte eu quero bem vivida...
Porque nao há nada melhor do que ir morrendo a vida
escolhendo como se morrer

-- João Otero - 18-mar-10 --

21 fevereiro 2010

Fresta

Tão intensamente linda
Tão esplendorosamente bela
Tu, detidas à porta, minha musa,
deixaste minha mente tão confusa
que deste baque, ainda,
a minha visão se recupera!

-- João Otero - 18/fev/10 --