19 julho 2010

Hipocondríaco e Sintomático

Hipocondriaco e Sintomático

Eu, hipocondríaco, sintomático, quase transformo em febre reumática uma mera streptococcus. Não é que, preocupado em sufocar de dor, acordo eu e entro na internet pra descobrir do que se trata minha chaga; e horas depois, ao acordar novamente no meio da noite, meu dedão do pé tá inchado, doendo, pulsando, como se eu tivesse chutado a quina do balcão - ou como se eu tivesse mesmo é com uma febre reumática?!

Aos hipocondríacos como eu são aos que mais funcionam os placebos, e aos que menos servem os homeopáticos. Pois é só dizer que há uma chance remota de um efeito colateral para ele virar sintoma líquido e certo; e é só dizer que "leva tempo, mas funciona...", que o tempo esse é exagerado, e vira "nunca" imediatamente!

Eu, hipocondríaco, sintomático, tenho flashback e entro em nóia até com erva natural. ...Nem me arrisco em nada um pouco mais sintetizado!

Eu, hipocondríaco: ao se me despontar um novo amor, já sei, de prévia sabedoria que ele vai durar pouco; que eu vou me entregar de todo; que eu vou sofrer muito... Não, um pouco mais do que isso. Muito mesmo. Já sei que vou ter pano pra manga pra minha poesia por alguns dias. Que o mundo vai acabar e todas aquelas coisas dos hipocondríacos...

E aí eu ligo, escrevo, imploro, me abro como nunca, digo que amo... E no seguinte segundo, "puff" - ela escapuliu! "Eu não disse?!"

...Eu: sintomático!

-- João Otero - 19-jul-10 --