19 julho 2010

Uma Geada

E a manhã alva dos campos de minha terra
Se me tem a camuflar uns lírios, a me apagar as relvas
Anunciada pelo um vento minuano, sempre repentino e forte,
A meio ano
Se me tem trocando o pano pela manta grossa e um pala
Ela que vem e me cala, contragosto, em branca tez
Ela que vem e me pára, num calafrio cortês
Ela que reclama tudo, e cobre tudo, dos meus olhos ao meu pêlo
Mas por baixo dos véus que cegam
Eu sei que brilham as relvas dos meus campos outra vez
E eu aperto meu canto, com nó de lenço vermelho
- Com cheiro de sangue, de guerra -
Para cantar as belezas de minha terra, de onde não me arredo
Por mais judiado que eu seja ao passares
Dama alva, linda... horrenda...
E o meu riso é porque eu sei que não há vento que se prenda!
Te mostro os dentes pois sei que logo após as coxilhas
Tenho o perfume das negras, e a pele-cuia das índias
E os campos que eu sempre quis
Não há pois como eu me renda
A uma passageira prenda
Se no seio da coxilha
Me aguarda tudo o que eu preciso
Para ser feliz

-- João Otero - 19-jul-10 --