24 maio 2014

Pétrea flor





A pétrea flor
Purificada em brasas
E relegada ao tempo.
Mas já não cheira
Mas já não brilha
Já não tem cor
A pétrea flor
Já relegada ao tempo.



-- João Otero - 24-mai-2014 --

19 maio 2014

Vazia





                    você vendia vida
                    vertia vícios,
                              vívidas volúpias

                    variadas vezes
                    ventriculou valente
                              visualizando velas

                    voava vívida...
                    voltava velha

                              vagando nas ruas vazias




Veja outros poemas da coleção Letras.

-- João Otero - 19-mai-2014 --

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Eberton Tomaz. Lutou com uma perna só. Perdeu a luta. Mas foi aplaudido pelo ginásio inteiro.
Perdeu de verdade; venceu!

18 maio 2014

Jamais amor





                                         jamais amor 
                                         jamais amor outra vez
                                         o que já foi não regressa
                                         é caco partido, é buraco
                                         é como o tempo fraco que se engessa
                                         e fica só o contorno do que desocupa
                                         e fica só a culpa
                                         fica a insensatez
                                         jamais amor 
                                         jamais amor outra vez



                                         — João Otero - 18-mai-2014 —

Sobre a vitória

Você foi com calma, teve receio, não deu seu máximo, se protegeu. Garantiu uma posição segura.
Você ficou numa condição confortável. Foi com paciência, devagar. Não se arriscou. Mas aproveitou as oportunidades com afinco. Fez o seu melhor quando as condições foram favoráveis. Fez o que tinha que fazer - até algumas coisas que normalmente não faria. Você chegou lá no topo. Obteve muitas conquistas! Acumulou muitas vitórias!

Mas no fundo, você sabe: você não tentou de verdade. Você não venceu de verdade. E quando não venceu, você nem mesmo falhou de verdade.
Você perdeu. E você sabe.

Você escolheu o caminho mais fácil. Você não se jogou, não foi com tudo.
Todo bônus tem seu ônus. Mas você não aceitou as adversidades.
Você perdeu.

Você fechou os olhos ao que não queria ver: você perdeu. Você não acolheu a dor: você perdeu. Você transferiu a sua culpa: você perdeu. Você trapaceou: você perdeu. Você prometeu e não cumpriu, você traiu: você perdeu.
Você se entregou: você perdeu. Você se importou com a opinião alheia: você perdeu.
Você manipulou, ludibriou, faltou com a verdade: você perdeu. Você aceitou vantagens: você perdeu.
Você pisou em outras pessoas: você perdeu. Você mentiu: você perdeu. Você continua em sua zona-de-conforto: você perdeu. Você sujou as mãos: você perdeu. Você sentiu vergonha: você não seguiu seus valores, você perdeu. Você abriu mão de seus sonhos: você perdeu. Você se vendeu, vendeu a sua alma: você perdeu.




Você teve medo, mas foi com medo mesmo: você venceu. Você deu a cara a tapa: você venceu. Você sustentou seus valores, contra tudo e todos: você venceu.

Você chegou quase lá, mas não conquistou seu objetivo. Mas você deu tudo o que tinha. Fez o seu melhor. Você sofreu, mas não se intimidou. Você não tinha mais fôlego, mas tentou mais uma vez. Você apanhou, está no chão, destroçado, acabado, sem forças. Mas você ainda está respirando. E você não se corrompeu.

Você falhou de verdade. Você atingiu o seu limite.  E sua alma ainda está limpa, e é sua.
Você venceu!

-- João Otero - 15-mai-2014 --


Exemplos:

-- 18-mai-2014:
http://globoesporte.globo.com/es/noticia/2014/05/boxe-aos-76-anos-touro-moreno-e-derrotado-na-volta-aos-ringues-no-es.html

-- 18-mai-2014:
http://jcotero.blogspot.com.br/2014/05/eberton-tomaz.html

-- aprender a falhar:
http://qr.ae/yyo8X

-- Parar de viver é de matar:
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/marilizpereirajorge/2014/05/1458150-parar-de-viver-e-de-matar.shtml?fb_action_ids=10203820349569069&fb_action_types=og.recommends

Vida... Sempre tirando uma com a nossa cara!
=)

15 maio 2014

Perdido, entre o instinto e a razão.
Querendo ambos, mas nenhum dos dois.
Não-querendo deveras o instinto que aflige tanto - touro louco, incontrolável.
Mas saudoso por deixá-lo. Nostálgico de sua alegria corcoveante; da cor de sua giba floreteada.
Dorme, instinto... Um dia, quando mais forte, volto a acordá-lo.
Quando eu tiver exorcizado um pouco da alma de mim mesmo.

-- João Otero - 15-mai-2014 --

Charada






E o que é que rima com o amor que mirra?
               Somente a birra em dor se anima.







-- João Otero 18-mai-2014 --

14 maio 2014

Insônia :-/

12 maio 2014

Revelação




Revelação: o Amor não existe!
E, subitamente, metade dos meus poemas
virou palpite.


-- João Otero - 12-mai-2014 --

11 maio 2014




Hoje é um dia com um que de estranheza... Alguma coisa, algum gosto. Tem alguma coisa estranha hoje.




08 maio 2014

Provérbios




                      De dó e de si
                           todo mundo canta um pouco...


-- João Otero - 8-mai-2014 --

Sonho Enquanto Passas (versão 2)




comoenquantopassasdeameixaedeuvaestáescuromasvelasummortoiluminamomeucaixãovoucomoteuolharqueamassaquetuusasprabaternomeucoraçãoemematasemquemeescondoentreosbichosquevertemdosmeusprópriosnichosdeinsensateznãoseiseésumsonhopastéisoulimpidezmascomoenquantopassasdeameixaedeuvaelogologotusomesnacurva


-- João Otero 8-mai-2014 - versão original em 02-fev-2000 --

A Vida Voa




                         A Vida voa
                         Veste seus véus
                         Seduz
                         Vilipendia
                         A vida vem cheia
                         E quando vê, 
                         Quem desviveu,
                         Vazou
                         Vazia



-- João Otero - 8-mai-2014 --

04 maio 2014

Folhas - Parte Final





E então seu olhar mudou uma última vez. De volta ao redemoinho das folhas dançantes da calçada na noite fria de outono, aquele olhar derradeiro não era mais meramente contemplativo. Não era um olhar de sorrisos. Desfolheava-lhe a vida.
O olhar desvelador. Percebia, enfim, todas aquelas folhas como páginas e fragmentos da história que escreveu. Tinha-as à frente de suas memórias, para dispor-lhes na ordem em que desejasse. E no entanto, era-lhe fatídica a sequência das aflições e dos sorrisos.
Imaginou aqueles pedaços bagunçados de vida se re-arranjando numa outra ordem. Noutros compêndios. Noutro destino. Um onde talvez a senhora sentada ali no banco da praça acabasse por ser sua companheira, vigiando-o de longe, como por tantos anos. Onde a praça pudesse não ser aquela, mas outra sabe-se-lá-onde. Onde talvez tivesse tido netos - e filhos, antes deles. Onde as lágrimas pingariam outros sais, sob outros sóis, por entre outras bocas, e consoladas por outros dedos que não os seus. E talvez daqueles olhos azuis tivesse-as sorvido mais vezes. Tanto as salgadas quando as doces.
O olhar de então criava. Artístico, num re-arranjo nem tão inédito assim. Era um amigo de há muito visitando novamente aquele rosto. Mas houveram escolhas. “Destinos?” - uns diriam. Caminhos. Vida. Foi assim a dele, até ali.
E era esse olhar particular sobre sua vida tudo o que carregara dela própria até então. Era, de tudo o que viveu, aquilo que conseguiu trazer consigo. 
Tudo o que possuía era o seu próprio olhar. E os olhos dela.







— João Otero - 1-mai-2014 —

Folhas - Partes 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13 e 14






Nota: Caro leitor, o autor ficou de saco cheio e não vai mais escrever as demais partes da história, inicialmente prevista para 15 partes.
No entanto, o final já estava escrito (tudo sempre tem o final já escrito...). Veja-o no link abaixo.






— João Otero - 3-mai-2014 —

03 maio 2014

Folhas - Parte 3





O olhar gripado. Contraponto ao influxo de ar gelado que adentrava as narinas. Ao agrado gelado do vento cortante no rosto. Agrado porque se percebia vivo. Percorria suas veias todo aquele frio como se fosse vida, como se fosse ânimo. Os raios de sol, anúncios de boa sorte, promessas de um bom dia. E o tempo não se expandia mais além. Ficava ali, confinado entre o branco amanhecer e amarelando-se até o pôr-do-sol alaranjado.
Gripado o olhar porque quase gotejava uma lágrima. Avermelhava um pouquinho o contorno dos olhos. Quase soluçava, meio febril. Quase doente. Mas febril de uma doença boa. Febril da paixão que estufa o peito ao ver a mochila dela guardando lugar na fila ali no pátio do colégio - e bem ao lado da sua!
Naquele tempo, um dia tinha o tamanho das cartas, e era o tamanho de toda a vida. 
Não lembrava se isso foi antes ou depois das trocas de bilhetes sinceros que cruzavam a sala tensos de mão-em-mão até o desabrochar de um sorriso a apenas confirmar o que todos já sabiam.
Mas pouco importava. Naquele dia, percorreriam lado a lado o caminho do pátio até a sala de aula. E aos 7 anos de idade, isso era o triunfo de um dia.

(continua...)





— João Otero - 3-mai-2014 —

02 maio 2014

Folhas - Parte 2





O olhar eriçado. Como um gato surpreendido. Pois antes que regressasse ao veranico, pousou desavisado ali numa lembrança furtiva de infância. Daquelas que se revelam como novidades, a pouco quase esquecidas naqueles cantos que não se remexe. O olhar bateu na folha seca, e a folha virou blue… 
Tinha agora ali frente a seus olhos o mesmo papel de carta azul das primeiras rimas, endereçadas a um aniversário. Mas queriam dizer mais que parabéns - ela sempre soube. E eram parabéns, entretanto, embora não dissessem em momento algum. Eram, para quem lesse, nada além de cavernas encantadas e dragões e rimas bobas e insignificâncias. Mas eram rimas com cheiro. Num papel azul amassado, que embrulhou também bichinhos de porcelana. E como a porcelana marcou o papel-de-carta, a carta fez uma marca no tempo. Foi o primeiro tempo, o da coragem de dizer, sem revelar. O de saber-se o que não foi dito. O da certeza absoluta sem nenhuma evidência além da crença pura. Ela sabia. E para a carta, bastava. 
As cartas nunca se preocuparam com a efemeridade do tempo…

(continua…)






— João Otero - 2-mai-2014 —