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07 novembro 2014

Lições de vida que os cotonetes nos trazem

Me considero um cara de sorte. O inusitado acontece em mim...
150 cotonetes novinhos num pote - que era mais caro que a caixa, mas a organização tem o seu valor. Abro o pote, escorrega a tampa da minha mão, escorrega o pote entre os dedos, bate o pote na quina do balcão, e vai girando em direção ao chão... Tudo isso em câmera lenta. 
E eu pensando "que caiam poucos cotonetes fora do pote... que caiam poucos...".
Todos. Todos os cotonetes caíram no chão! Não sobrou nenhum no pote.
Os cotonetes ensinam que sorte ou azar é uma questão de spin.
Pra cada sorte que eu tenho, êta de azar!
...Aí naquela dúvida de se a regra dos 5 segundos vale também pros cotonetes, vou lá enfiar os ditos de volta no pote.
Segunda lição dos cotonetes: certas coisas, depois de bagunçadas, nunca voltam pro pote do mesmo jeito que eram antes.

-- João Otero - 7-nov-2014 --

25 novembro 2013

A Escala das Coisas

Acumulamos muita coisa.
Do tênis novo, ao porta-retratos, o guarda-chuva, a bicicleta, o carro, a casa, o perfume - e segue a lista... Não pelas coisas em si, mas pelo que nos proporcionam: a atenção dos outros, a boa memória dos momentos com os amigos, a proteção da chuva quando necessário, a diversão, o transporte, o conforto e a segurança, o cheiro bom e um pouco mais de atenção.
Acontece que de tanta coisa, somos mais lentos que um caramujo. Não cabem nossas coisas todas em nossas costas. E tanta coisa assim, no fim, nos limita. Para termos tudo isso, ficamos parados - não podemos carregar. Em suma, nossas coisas não escalam. Ou seja: os benefícios que nossas coisas nos proporcionam, não escalam.
Escalar é quando o efeito ou benefício da coisa aumenta numa proporção maior do que a quantidade de coisas.
Se eu escrevo um texto em formato digital, esse texto escala: eu posso escrever uma única vez e distribuí-lo a um número grande de pessoas. Se eu escrever à mão, numa folha de papel, ele já não escala tão bem. Um tênis não escala. O guarda-chuva escala muito mal até duas pessoas. A bicicleta não escala. O porta-retratos requer um olhar seu para ter valor, e apenas naquele breve momento em que dura o teu olhar... As coisas não escalam, no geral.
Para termos o benefício de nossas coisas, teríamos que tê-las todas conosco, o tempo todo. Mas quantas coisas conseguimos carregar? Comparado com as coisas que temos, muito, muito poucas!
Ao invés de coisas, deveríamos acumular outras coisas: experiências. Experiências escalam, porque estão com você o tempo todo, em qualquer lugar, e você pode acumular mais e mais sem ocupar espaço, e conseguido carregá-las.
A quantidade de bons momentos e memórias de lugares fascinantes. O aprendizado de culinária, de línguas, de lugares, de técnicas, de matemática, de histórias. A memória muscular para desviar de um objeto em sua direção, ou para cair sem se machucar. A inteligência emocional para tratar com as pessoas e consigo mesmo. Saber dançar. Saber tocar uma música. Saber pensar.
Porque no final, você aproveita muito pouco de todas as coisas que tem - quase nada. E só o que te acompanha por toda a vida, em qualquer lugar, na prisão, na cama de hospital e até o leito de morte, são as suas experiências.
Ademais, as coisas produzem alguns efeitos colaterais: ansiedade, preocupação e a insegurança de perdê-las; que nos faz menos propensos a riscos, e por consequência menos propensos a experiências - e isso já seria ruim o bastante. Mas o pior, é que as coisas nos limitam: nos tiram a liberdade. Quem cuidará de suas coisas quando você quiser viajar pelos quatro cantos do mundo?
Quem teve a vida mais rica: o que acumulou coisas, ou o que acumulou experiências? Pois não são as experiências o propósito final das coisas? Ou seja, não temos coisas pelo que elas nos proporcionam, afinal?
Assim como as crenças, nossas coisas nos limitam.
Ok, as coisas são necessárias sim. Dormir ao relento não é legal. Ter que procurar um novo lugar para dormir toda noite não é lá muito tranquilizador. Uma casa facilita. Mas sua necessidade é sempre momentânea. O ideal seria tê-las todas descartáveis; alugáveis. Acumular o benefício das coisas, não as coisas em si.
Sem conclusões ainda. Só comecei a pensar nisso hoje...
Apenas percebi que o benefício das coisas que temos é muito ínfimo se comparado aos parcos momentos em que as usamos. Me parece um desperdício. Tanto de dinheiro, e quanto mais de vida - que na escala das coisas, é muito mais importante!

-- João Otero - 25-nov-2013 --




06 setembro 2013

Ensaio sobre a justiça

O traço mais marcante do ser humano é o egoísmo. No limite, sempre "primeiro eu".
Noções mais amplas de solidariedade e colaboração são praticadas até esse limite, apenas.
E a própria noção de justiça, que é um conceito abstratro produzido sobre esses outros conceitos mais fundamentais, também sofre essa influência. A ponto de eu afirmar que, de fato, não existe. Existe apenas como conceito, mas jamais será respeitado de forma unânime por uma população muito grande, por longos períodos de tempo. E a razão é que a "percepção" de justiça sofre influência do egoísmo, que é intrínsico e basal na personalidade do humano bicho. Senão, vejamos: quando o outro ganha o dobro que eu, tem mais importância o fato de eu ter ganho metade do que o fato de eu ter ganho algo extra, que eu não possuía antes. A inveja é relativa ao outro, não a mim ou ao que eu tenho. E tal fato é totalmente irrelevante ao conceito de justiça em sua acepção mais fundamental. Mas eu "sinto" injusto. Agora, veja-se: um mundo idealizado totalmente justo tende a produzir desigualdade - os indivíduos mais bem preparados, os mais afortunados, os mais inteligentes, os mais capacitados... naturalmente, no tempo, vão produzir mais, vão se sair melhor. Qualquer correção forçada desse fato, implica numa injustiça potencial. Mas assumindo-se que a injustiça não ocorra, haverá ao menos a "percepção" de injustiça, decorrente da inveja humana. Assim, a humanidade se auto-regula num patamar inferior: quem se sobressai demais, torna-se excluído; quem acumula demais, gera revolta; quem chama atenção demais, ganha torcida contra. Tanto em relação a indivíduos, quanto a grupos, classes sociais e até mesmo nações. É notória a predileção dos seres humanos pelo "mais fraco", seja time, indivíduo, empresa... Mas não há nesse fato senso algum de justiça. O fraco não têm necessariamente mais mérito pela predileção.  Há sim um senso de inveja, cuja raíz é o egoísmo humano natural. Há muias vezes um senso de empatia, que também é natural, visto que a "maioria", estatisticamente, tende a ser abaixo da média. O que impera, no fundo, é o egoísmo. A justiça, como conceito, é portanto utópica. Mas se no limite, vale o egoísmo, então no limite vale tudo. Só que isso gera insegurança, que egoísticamente, não é algo bom. Emerge naturalmente decorrente disso um acordo tácito onde certos padrões de justiça são respeitados. Mas o respeito à justiça ocorre apenas do ponto de vista de um máximo "local": pode-se esperar justiças em pequenos fatos; mas não se pode esperar justiça de um ponto de vista de máximo "global", respeitada em todos os momentos em relação a um indivíduo qualquer... pois essa juistiça global produz percepção de injustiça. É quase como dizer que receber justiça demais é injusto... É como se a sociedade ainda exigisse um certo grau de selvagerismo, necessário para acalmar ânimos dos menos afortunados que, estatisticamente, são maioria. Sim, é à força da maioria que tudo se rege. E a maioria é sub-ótima. Apenas uma triste constatação da realidade.

-- João Otero - 6-set-2013 --

05 setembro 2012

Sobre a zona-de-conforto


        Provavelmente você já tenha ouvido falar da estória da corrida que apostaram o coelho veloz e a tartaruga lenta… E o coelho dispara na frente enquanto a tartaruga segue naquela lerdeza constante. Aí o coelho resolve parar para descansar - já que está tão à frente - e acaba caindo no sono, dormindo demais, e perdendo a corrida para a tartaruga lenta.
        Há quem pense que a moral dessa história é "devagar e sempre". Engana-se quem entende assim.
        O engano decorre de uma falácia: a falsa impressão de que existe apenas duas alternativas entre as quais escolher.
        Mas a moral da estória está implícita. Não se trata de uma escolha entre a mediocridade continuada e a excelência esporádica. A resposta correta é a que não aparece na história: a excelência continuada. A tartaruga persistente vence porque o coelho é idiota. Se fosse um coelho esperto, que não parasse para descansar (que é a armadilha para acabar cochilando), teria entrado para os anais das estórias infantis como o vencedor da corrida.
        Mas para isso não se pode deixar cair em suas zonas-de-conforto. Não se pode dormir demais. Aliás, não se deve dormir enquanto não passar pela linha-de-chegada. Não seja um coelho idiota!

-- João Otero - 5-set-2012 --

12 agosto 2012

Hábitos


Sempre fui muito criativo e passei a acumular muitas ideias em notas e desenhos, e sempre gostei de planejar; e nunca gostei de perder minhas ideias nem os meus planos. Então já há algum tempo passei a me interessar pelo tema da "organização pessoal", que iniciou como uma necessidade ferramental, mas conforme aprofundei os estudos acabei percebendo que o cerne da coisa era muito mais psicológico e comportamental do que técnico.

Também já há algum tempo me interesso por comportamentos. Nunca estudei psicologia, e particularmente não confio em psicanálise, mas digamos que passei a consumir os livros de "divulgação científica da área psicológica". Esse interesse nasceu vendo as ilustrações de O Corpo Fala, e prestando atenção na linguagem corporal das pessoas, desde pequeno - até que isso virou automático, e eu acabo sendo um razoavelmente bom "leitor de pessoas" agora. 
O interesse em psicologia se reforçou quando passei a perceber que as ciências econômicas eram de fato ciências sociais (e não ciências exatas), e que as leis econômicas eram leis de comportamento. 
E o interesse por economia por sua vez nasceu também de uma necessidade ferramental, quando fiz um MBA em Gestão pela FGV (parei no meio para ir trabalhar na NEC Labs), e tive uma aula excelente sobre macroeconomia. A partir dali passei a compreender os movimentos econômicos das massas... o que me fez mais tarde nutrir interesse pelo livro Freakonomics, onde aprendi e entedi de vez que de fato as ciências econômicas têm muito mais a ver com psicologia do que com matemática. E isso reforçou o meu interesse em psicologia. Até que atualmente não foi com nenhuma resistência que passei a me interessar pelos conceitos de "gamification" e "usabilidade" que estão em voga no campo dos aplicativos web e mobile com os quais trabalho no Spotwish (mas isso é uma outra história...).

Bem, voltando ao interesse em organização pessoal, certa feita comprei por puro acaso o livro Getting Things Done, e ele mudou completamente a minha visão sobre o tema, pois me fez perceber que a abordagem adequada para se lidar com "organização" é perceber do ponto de vista psicológico que existem certos fatores de resistência que dificultam o processo, e ensinou algumas técnicas para se tentar reduzir essas barreiras. Ele te ajuda a criar bons hábitos de organização pessoal de uma forma mais natural, afim ao teu processo natural de funcionamento.
Ainda no interesse em me organizar melhor, acabei comprando Os 7 Hábitos das Pessoas de Altamente Eficazes, best seller no mundo - que nunca li complemetamente, mas rapidamente entendi a mensagem, e logo me pôs a pensar: o que faz algumas pessoas terem sucesso e outras não? O que faz certas pessoas tornarem-se heróis, líderes, ícones?

É fácil perceber que não se trata de nenhuma característica inata na maioria dos casos - pois se assim o fosse, todas as pessoas de sucesso seriam gênios ou supra-sumos genéticos, e isso nitidamente não é o caso.
Me lembrei do livro Inteligência Emocional no Trabalho, que deixa muito claro que as habilidades emocionais são as que mais trazem impacto no nível de sucesso e felicidade alcançados pelas pessoas, e que a inteligência convencional ou as características físicas influenciam muito menos do que convencionalmente se imagina.

É também fácil perceber que não é o meio que determina o sucesso, ou a família, ou as condições sociais - pois fosse assim não haveria movimento social entre classes, nem Gandhi, nem Cristo e nem Mandela seriam ícones, e nem haveria tantos outros diversos casos de pessoas em condições extremamente desfavoráveis que fizeram enormes fortunas em pouco tempo, a despeito de tudo. A propósito, alguém aí viu o filme Em Busca da Felicidade?!

Será que as pessoas de sucesso têm alguma "fórmula secreta" implícita em si? Qual essa fórmula? Não fui o primeiro a perguntar isso - aliás, foi essa pergunta que levou o autor dos 7 Hábitos a descobrir padrões de comportamento entre as pessoas de mais sucesso, e a escrever o livro.
Lembrei de um programa da NatGeo onde estavam mostrando uma espécie de siri lutando: naquela espécie, dois siris machos iriam lutar e o perdedor perdeira apenas uma única vez na vida: o perdedor dispara um mecanismo em seu cérebro que o torna submisso para sempre! Isso realmente me pôs a pensar: o macho perdedor  é perdedor simplesmente porque o cérebro dele lhe diz para ser. E se o cérebro do perdedor não registrasse essa derrota, ele poderia lutar novamente com o macho alfa e vencê-lo? E se o macho alfa venceu por sorte, porque tinha uma pedra no meio do caminho (sem qualquer conotação poética...)? Será que esse tipo de mecanismo existe em nossos cérebros também?! Será que essa é a diferença entre as pessoas de sucesso e as pessoas comuns - a simples "crença", impressa em nosso cérebro, inconscientemente, de que "podemos" ou não "podemos"?

Mais tarde houve outro livro, Thinking and Reasoning in Human Decision Making, que passei a estudar porque também me interesso pela forma como as pessoas se comunicam. Já me interessava pelo tema das "discussões que viram briga", pois me irritava entrar numa discussão e apresentar todos os argumentos lógicos e mesmo a outra parte entendendo a lógica, não aceitar a dedução dos argumentos (pois isso é lógicamente impossível e incoerente). E voltei a me interessar pelo tema quando percebi que para uma "democracia direta" a principal ferramenta necessária é um framework pelo qual um número muito grande de pessoas consiga chegar em um consenso lógico. E especialmente para tentar criar esse framework de como as pessoas poderiam chegar a consensos de forma lógica, comprei esse livro - e acabei por entender que as pessoas não se comunicam de forma lógica. Grande revelação: a maior parte das nossas decisões cotidianas não são baseadas em lógica, mas sim em heurísticas, que na maioria das vezes são muito influenciadas por aspectos emocionais!

Ahá! Agora junta tudo: Inteligência Emocional, que diz que o controle emocional é o principal fator de sucesso; os 7 Hábitos, que indetifica padrões comportamentais nas pessoas de sucesso; o siri do NatGeo, que gravou em 1 momento no seu cérebro um comportamento que influencia o resto de sua vida... Resposta: os hábitos são o que diferenciam os gênios, os heróis e os líderes, das pessoas comuns; os hábitos é o que dão sucesso às pessoas. 

Os hábitos são comportamentos cotidianos que fazemos sem pensar, durante a maior parte do nosso tempo. Não são momentos de sorte ou de superação que mudam a vida das pessoas. Sim, podem mudar; mas como a vida é longa, a probabilidade de "azares" de mesma magnitude é a mesma, e no final tudo se equilibra. Mas algo que você faz o "tempo todo" e na "maior parte do tempo" tem um efeito cumulativo durante toda a sua vida. O sucesso é uma construção cotidiana, moldado em hábitos.
Desde lá passei a me interessar pelo tema "hábitos". E percebi padrões de algumas pessoas de sucesso, como no livro do Bernardinho, onde ele demonstra o hábito de se manter fora da zona-de-conforto para atingir e manter níveis de excelência esportiva; no livro Pai Rico Pai Pobre, onde o autor em um trecho conta ter feito um curso sobre mercado imobiliário e que ficou rico (simplesmente porque ao contrário dos seus colegas de curso, ele resolveu de fato por em prática o que aprendeu no curso); e diversos outros livros e comportamentos cotidianos de pessoas diversos (aos quais eu ainda continuo prestando atenção).
Recentemente aguardando pelo horário do cinema acabei matando tempo em uma livraria (dois dos meus hábitos), e me deparei com o livro "The Power of Habit". Comprei sem pensar, mais interessado em gamification (porque estou muito focado em fazer do Spotwish o melhor aplicativo que irá proporcionar a melhor experiência de vida real do mundo), e me surpreendi muito. Ele explica como os hábitos se criam, como mudar hábitos, e todo o processo cerebral envolvido nisso. Fundamentou o que eu já desconfiava. Recomendo a leitura.

Enquanto uns assistem novela, outros têm o hábito de ler. Enquanto uns dormem um  pouco mais para curtir a sensação de prazer do sono, outros levantam cedo para fazer exercícios. Enquanto uns correm risco, se manifestam e inspiram as massas, outros sofrem calados e submissos. E tudo são hábitos, construídos e reforçados no dia-a-dia. E isso é o que explica e diferencia as pessoas de sucesso: hábitos - mesmo que inconscientes. 

E não me entendam mal: não faço julgamento de valor em cada atividade. Talvez ver novela te torne uma pessoa mais feliz e isso seja mais útil para alguém do que ler (e há leituras mais ou menos úteis para cada indivíduo também...).
Mas se conscientemente buscarmos mudar os hábitos que não queremos ter, isso será um dos principais fatores de diferença nos resultados que você vai alcançar ao longo de sua vida. Hábitos não dependem da sorte, nem de outras pessoas, nem do clima. Hábitos dependem de você, apenas.

E se os meus pais, tia e vó não tivessem o hábito de ter sempre livros e enciclopédias esparramados pela casa, aliado à minha curiosidade inata, possivelmente eu não tivesse me habituado a ler tantos livros e nem tido tantas referências para acabar percebendo isso.
Aliás, hoje é dia dos pais: obrigado pai!  :-)

-- João Otero - 12-08-12 --

04 janeiro 2012

Já não faço mais resoluções de fim-de-ano.
Tampouco reclamo do ano passante ou o menosprezo. Não espero mais que o ano que vem seja melhor.

Torço simplesmente para que ele não me traga maiores problemas do que trouxe o que já se vai (porque vendo daqui, até foi fácil...). Mas não é nem ao ano a quem eu rogo; é a mim mesmo. Decisões mais sábias, mais experiência.

Experiência que aprendi a consolidar com uma retrospectiva de tudo de bom que aconteceu nesse ano que passou. E teve muita coisa boa. Abro um sorriso porque eu sei que o próximo vai ser ainda melhor.

E quanto ao primeiro do ano, é simplesmente uma continuação dessa trilha. Não tenho nada para renovar ou prometer. Baixar cabeça e continuar trabalhando. Não se mexe em time que está ganhando, afinal.

Começar tudo de novo é burrice. O caminho percorrido é parte da trilha.

17 julho 2011

Para lembrar de não ser idiota

Para lembrar de não ser idiota.

A luz é fraca, quase negra, não ilumina. E piscou um pouco até que parou.
Pela fresta da janela eu vejo as folhas de uma árvore balançando ao vento desta noite acinzentada. Garoou o dia inteiro...
De fundo, eu ouço um jazz bem brasileiro na voz dôce de uma negra. Negra como este escuro em que estou. Ouvindo o barulho de água roçando no brasilite.
Não; não é da chuva lá fora. Sou eu, sozinho aqui neste escuro, tentado - bêbado - acertar o mijo no lugar que lhe pertence.
Mijo, sim. Sem vergonha. Por que eu haveria de ter?! Todos mijam... Eu inclusive.
Vergonha, não: há de se guardar o pudor para coisas mais nojentas. Como a burrice, por exemplo. Como a minha burrice...
Que eu tento exorcizar nesse mijo. Que eu tento exorcizar nestas palavras.
Pois no banheiro fedorento de um bar de jazz só se chega depois de algumas cervejas.
No meu caso, ainda somente após confundir a porta da cozinha com porta de banheiro por duas vezes - até entender que, não, não é um mijão eterno preso na portinhola; e sim o cozinheiro. A porta do banheiro é a do outro lado. Mas porra de arquiteto, também!, que pôs a placa do banheiro antes das duas portas.
No meu caso ainda, só depois de muitas cervejas. A ponto de confundir a porta da cozinha com a porta do banheiro duas vezes. Mas acho que já disse isso...
E este jazz, neste bar, é somente a chave dourada para encerrar o meu dia cinzento. Moroso. Chato pra cacete! - se querem mesmo saber.
O dia em que tudo deu errado.
Desde meus times perderem, a mesa do bar quebrar, o pedido ser entregue errado, perder a ex-futura-quase-namorada.
...É, teve essa parte também neste dia.
Teria, por acaso, outro motivo mais nobre para se mijar ao som dum jazz?!
Eu sempre tive uma certa melancolia intrínsica em mim mesmo. E às vezes ela aflora. Se solidão, se pressentimento ou se apenas efeito do Fernando Pessoa a altas horas da madrugada, não sei. Só sei que ela aflora.
E nessas horas, minha cabeça vira um lixo. Junta as peças, conjetura tudo. E invariavelmente conclui que a vida é uma merda.
E em dias como hoje, a vida é realmente essa merda.
Porque não há espaço - parece-me - aos ingênuos, aos sinceros; aos idiotas, em suma, como eu. E por menos ingênuo que eu seja, nessas situações sou um completo idiota.
Porque qual o sonhador que não é idiota? Qual o idealista que não é idiota? Quem, em santa inteligência, acreditaria que as coisas são realmente simples, que tudo é possível, que a distância entre dois amantes separados por mil quilômetros é apenas a largura de um avião, que pelo computador se pode conhecer a pessoa de nossas vidas? Quem em santa inteligência acreditaria que meses de conversa e o som da voz no telefone, e um café ou dois, e umas voltas de carro bastariam para conhecer alguém? Quem em santa inteligente idiotice acredita em juras suspiradas ao pé do ouvido - depois de um beijo?
Nem parece eu! Euzíssimo eu mesmo! Eu, o eu burro - não este, realista. Eu, mais uma vez...
Então bebo. E ouço jazz.
Bebo e ouço jazz porque me seda a burrice.
Porque apesar de não acelerar o tempo, o disfarça.
Serve-me como o remédio - que só tapeia a chaga até que o corpo, por conta, a cure.
Como o remédio, hoje servem-me a cerveja e a cachaça; que se não me cura, pelo menos disfarça a dor que só o tempo cura.
Mijo o que eu puder dessa memória. Mijo lembrando da cara dela.
Mijo com nojo, querendo mijar de mim tudo o que eu me lembro.
Ou talvez não devesse esquecer? Para deixar de ser idiota!
...Ok! Então, eis uma marca de estilete em minha memória.
E que fique aqui neste blog, para todo o sempre.
Amém.

-- João Otero - 17-jul-11 --
A fidelidade é uma eterna dúvida; somente pode ser reforçada, mas jamais auferida.
A infidelidade é facilmente provada, bastando um único fato.
Mas não há um único fato que prove a fidelidade.
A fidelidade, a lealdade, a confiança... todos esses sentimentos exigem plenitude.
E essa propriedade é que distingue os sentimentos que valem realmente a pena.
Porque a plenitude investe o "tempo" para atribuir-lhes valor.
Esses sentimentos não valem por que o "são" neste momento; e sim porque "foram" já por muito tempo.
Se alguém lhe tem lealdade, se alguém lhe tem fidelidade, se alguém lhe tem confiança... cuide bem! É muito difícil conquistá-los.

28 maio 2011

ensaio: A Evolução da Linguagem

A Evolução da Linguagem
João Otero - 28-maio-2011

      Desde a invenção do computador moderno, por volta dos anos 1950, passamos a viver a "era da informação". Com o processamento automatizado dos cálculos computacionais, o aumento na quantidade de informação disponível foi notável. Mas a informação por si só não gera valor: a informação só existe com o propósito de ser comunicada, e a consequência direta do aumento da quantidade de informação é o aumento do nível de comunicação.

     Não espanta então notar que as principais indústrias e tecnologias dessa nova era são tecnologias de comunicação: televisão, telefonia celular, internet, mp3, redes sociais, etc.
     O ápice atual desta era se representa muito bem pelo tamanho da importância da internet na vida moderna. A intensidade da comunicação gera demanda por comunicação eficiente. E a necessidade da comunicação eficiente evolui a língua.

      Essa necessidade de eficiência sempre existiu, e sempre evoluiu a língua.
      No tempo dos homens pré-históricos, nos primórdios da descoberta da linguagem, a comunicação era menos complexa: vocabulários menores, palavras com poucas sílabas. A necessidade era a de expressar uma ideia e reagir-se a ela rapidamente. A linguagem devia ser eficiente para tratar de problemas em tempo-real, situações de perigo, avisos. Quando a tribo aumenta, surge maior necessidade de substantivos, para diferenciar as pessoas.

     Quanto mais items, objetos, produtos e ferramentas passam a fazer parte do dia-a-dia dessas pessoas, com o aumento de seu nível tecnológico, maior a necessidade de novos substantitos - e então, eles aumentam de tamanho; passam a ter mais sílabas; novas fonéticas são convencionadas.
      Naturalmente pode-se imaginar que as necessidades no decorrer da evolução dessas tribos eram mais básicas no início, se tornando mais complexas com o passar do tempo, da mesma forma que a pirâmide de Maslow estabelece prioridades crescentes.
      Portanto, os conceitos de uso mais corriqueiro deviam ser também os mais necessários. Esses conceitos acabaram por "reservar" para si as palavras com menos sílabas. Substantivos e conceitos com ordem progressiva de importância foram ocupando as posições subsequentes que possuíam o  menor número de sílabas disponíveis.

      Da forma semelhante, certos conceitos são compostos por conceitos de mais baixo nível. Dessa forma é natural que se reutilize esses conceitos já existentes para expressar um novo conceito. Isso facilita a compreensão; é eficiente, portanto. E assim surgem os prefixos e sufixos.
     Até mesmo em linguagens modernas de programação de computadores esse conceito de reaproveitamento existe: "classes" de objetos encapsulam conceitos; essas classes podem "herdar" propriedades de outras classes. É uma evolução natural, porque aumenta a eficiência da expressão da linguagem.

      E é a necessidade de uso dos conceitos que filtra as palavras que sobreviem (teoria evolutiva tradicional); e quando existe palavras com menos sílabas sobrando, o conceito candidato mais importante irá se apropriar dela. As palavras que necessitam maior frequência de uso são as mais curtas (pronomes, por exemplo). Mas obviamente existe um delay na velocidade de readaptação da linguagem: porque existe uma "convenção"; a convenção se constrói por costume, hábito - e leva tempo, portanto.

      A linguagem evolui para ser eficiente.

      Mas cada grupo étnico, vivendo em locais diferentes, possui também diferentes "necessidades de expressão". Os que vivem em locais frios possuem o conceito de "neve" como algo importante. Os que moram em áreas desérticas provavelmente possuem "água" como algo muito importante, e talvez "sol" e "sombra" também.

      As tribos evoluíram tecnologicamente e dessa forma aumentaram seus tamanhos, criando eventualmente vilas e cidades. Passa então a se criar devagar o conceito de "nação". E a cada aumento dos grupos, maior competição entre grupos acontece: guerras. Os grupos étnicos mais fortes acabam determinando a linguagem convencionada. E dado o delay imposto pelo costume, conceitos importantes para a etnia dominadora substituem palavras da etnia dominada, e isso pode explicar a "ineficiência" absoluta da linguagem, no sentido de que não existe uma linguagem absolutamente eficiente para todas as necessidades humanas. Ou seja: em sua maioria, a linguagem é eficiente; mas existirão palavras que podem não parecer tão eficientes.

      A população cresce e mais tarde surge a necessidade de se registrar números, astros, acontecimentos. Surge a linguagem escrita.
      E ela surge em dois sabores: podemos registrar conceitos, ou podemos registrar fonemas. A primeira é mais eficiente para leitura. A segunda é mais versátil em termos de reuso; o vocabulário é mais sucinto e quantidade de regras expressando suas relações são menores.

      Tome-se como exemplo o mandarim e o inglês. No mandarim os textos são mais curtos, e a leitura é mais rápida. No entando, necessita-se maior treinamento, pois há mais regras e há mais representações para se aprender. No inglês os textos são maiores, mas as regras e representações são mais generalistas. Pode-se aprender o sistema mais rapidamente. São dois modelos distintos de eficiência competindo entre si. Eventualmente um dos sistemas irá vencer, - combinação de eficiência com poder étnico. E quando o poder étnico é determinado pela eficiência da comunicação, cada vez mais, como na era da informação, a linguagem mais eficiente tende a gerar maiores condições de poder ao seu povo.

      Da mesma forma que não existe eficiência absoluta na linguagem falada, não existe também na linguagem escrita. A linguagem não pode ser ao mesmo tempo a mais rápida de se compreender e a mais rápida de se pronunciar; a mais poderosa de se expressar e a mais genérica de se registar; etc. Qual seria uma convenção de linguagem mais equilibrada para as necessidades atuais? Poderíamos criar uma?

      A necessidade contemporânea é transmitir e compreender a maior quantidade de informação de forma mais rápida e precisa possível. E nesse sentido, especialmente quando a internet catapulta essa necessidade, surge notóriamente no meio virtual a evolução do poder de expressão da linguagem. Atualmente podemos expressar também "sentimentos", através de emoticons. Podemos representar que estamos gritando, com letras maiúsculas. Outras convenções do tipo já eram presentes em textos: texto entre aspas pode indicar pensamento, ou a fala de outrém.

      Na internet, nos sms, em instant messages, busca-se a eficiência. Palavras de uso muito comum são convencionadas massiçamente. Você é "vc". Praticamente não há sobreposição com qualquer outro conceito. E é mais eficiente uma palavra de 2 letras do que uma de 4 letras. Essas convenções passam a aparecer em textos diversos, e eu acho ótimo que seja assim! Os defensores das normas, na minha ótica, são produtores de "delay" na evolução da língua.

      Nesses casos, gosto muito de dizer "Entendeu? Então não complica...".

25 julho 2008

Franqueza

Já aprendi que não se muda ninguém.
E cabe a ti aceitar ou recusar o que é, do jeito que é. Só te cabe a escolha, e nada mais.
Triste, como pode parecer; mas simples. A vida é muito simples. Nós é que teimamos em complicar.
A verdade é estampada. Cabe a ti ser apenas franco.

E vale notar que a franqueza difere da verdade.
A verdade é impessoal, o cerne de um fato. A franqueza transcende a verdade: é um valor e define caráter.
A verdade é implícita; a franqueza, explícita.
A verdade pode ser mascarada, omitida; a franqueza não.
A franqueza é a verdade proposital, não apenas circunstancial; não espera ser inquirida, indagada ou examinada; ela é apresentada expontaneamente, crua e sem intenção.
A verdade pode acompanhar a dúvida; a franqueza é companheira apenas da certeza - seja ela qual for.

Entre a verdade e a franqueza, prefiro receber o tratamento da última. Mesmo na dor que ela eventualmente provoque, e que a simples verdade - ou sua falta - poupasse. Porque a dor da franqueza é derradeira: é o chão, e de lá se constrói o alicerce, sabendo-se que o terreno é firme.

E mesmo que ambas se anteponham à mentira, o fazem em diferentes maneiras. A verdade aceita sua convivência, eventualmente. Mas a franqueza não.

E essa mentira, que "tem pernas curtas", é um fenômeno entrópico. Muita energia é necessária para que ela sobreviva...
E toda essa energia, física e psíquica, consome. Causa pequenas frustrações que se acumulam e influenciam. Tanto para o enganado quanto para o enganador.
Toda mentira cai em contradição, eventualmente, se levada por muito tempo. E mesmo o pior dos cegos, um dia a vê.
E para ambos o enganador e o enganado, a noção consciente de se estar afastando-se de seus próprios princípios, dos valores que cada um tem a si próprio como certo e errado, leva invariavelmente ao destino da amargura.

E é claro que há mentiras inocentes: mas atribua-as grau pela tua própria consciência, pois tua consciência nunca trai
a ti mesmo, mesmo que tu queiras ter-te enganado. O teu certo e o teu errado, embora relativos aos demais, são absolutos a ti, e por conta deles é que te definirás feliz ou amargo.

Então, para quê desperdiçar tempo, fechando os olhos? Encurte-se o caminho - a franqueza é uma aliada.
Cutuque tua própria ferida. Dê a cara a tapa. Assuma teus erros. E assuma teus desencantos também.
Tão mais logo quanto o fizeres, tão mais vivo e livre serás.
Nao te contentes em ser apenas verdadeiro, mesmo que não te favoreça de imediato: sejas franco.

-- por João Otero - 25-jul-08 --

21 maio 2008

A Formiguinha e a Neve (adaptação, sem censura, por João Otero)

E a Formiguinha que prendeu o pézinho na neve, disse pra Neve:
- Óh Neve, tu que és tão forte, solta o meu pézinho?
A Neve então respondeu:
- Mais forte que eu é o Sol, que me derrete.
A formiguinha então se voltou ao Sol, e lhe pediu:
- Óh Sol, tu que és tão forte que derrete a Neve, que prende o meu pézinho, solta o meu pézinho?
Ao que o Sol respondeu:
- Mais forte que eu é o Muro, que me tapa.
Voltando-se então ao Muro, disse a formiguinha:
- Óh Muro, tu que és tão forte que tapa o Sol, que derrete a Neve, que prende o meu pézinho, solta o meu pézinho?
O Muro lhe disse então:
- Mais forte que eu é o Rato, que me fura.
A Formiguinha então implorou ao Rato:
- Óh Rato, tu que és tão forte que fura o Muro, que tapa o Sol, que derrete a Neve, que prende o meu pézinho, solta o meu pézinho?
- Mais forte que eu é o Gato - disse o Rato - que me come.
Nisso, então, a Formiguinha pediu ao Gato:
- Óh Gato, tu que és tão forte que come o Rato, que fura o Muro, que tapa o Sol, que derrete a Neve, que prende o meu pézinho, solta o meu pézinho?
O Gato, apressado, lhe respondeu:
- Mais forte que eu é o Homem, que me caça.
Vendo o Homem se aproximar, a Formiguinha num alento voltou-se ao Homem:
- Óh Homem, tu que és tão forte que caça o Gato, que come o Rato, que fura o Muro, que tapa o Sol, que derrete a Neve, que prende o meu pézinho, solta o meu pézinho?
- Ô Formiguinha... tu tanto ficou nessa lenga-lenga que não tá vendo que a neve já derreteu faz horas?
- Óh! Nem havia me apercebido! Muito obrigado, óh Homem!
- Que é isso, nem me agradece... Agradece àquele gato pederasta que come o Rato, que fura o Muro, que tapa o Sol, que derrete a Neve... Falando nisso, cadê o Gato?! Pôrra, Formiguinha...!
...E num acesso de fúria, era uma vez uma Formiguinha.

-- João Otero - 13-mai-2008 --