05 abril 2010

Elegia da Minha Própria Morte

Logo eu comecei, fui vivendo a vida - e ela adoecia...
A cada dia a mais, um dia a menos me vinha
Quanto mais eu a usava, muito menos dela eu tinha

E ela me apressava,
Olhava pra mim e se ria...

Ria ela de Mim! A vida breve e fraca
A vida parca e rota,
A vida opaca e fria..!

Então desisti da vida e fui viver minha morte -
Como se mais moça, como se mais forte,
Como com mais gosto e muito mais sabida,
E com mais intuito
De seguir adiante
A sua própria vida...

E então - eu já morrendo - fui Eu lá rir dessa vida!
Ri dessa vida fraca, ri dessa vida fria
E fiz da minha nova morte uma constante elegia

Espiei as frestas, como se espia,
Coisas de curiosos aonde quer que eu ia
E me esfreguei em braços que eu nem sabia
Se eram tão sinceros - mas eu nem queria...
Fui sorver orvalhos que eu não conhecia
Desses que se brotam em erva-daninha

...E enquanto eu fui morrendo, nesse meu dia-a-dia,
A cada um dia a menos, um dia a mais eu tinha!


E um dia, tudo se foi...
Foi-se a vida, foi-se troça, foi-se a morte -
Que eu tive breve e sem-sorte -
Mas que foi muito bem vivida!

-- João Otero - 3-abr-2010 --