14 maio 2010

Pontacabeça

Prólogo:
Eu sei que meu português ficou uma bosta neste texto. Mas não importa muito. A mensagem é o mais importante.



Pontacabeça

Eu olho em volta e vejo tudo muito raso, muito rápido, muito superficial, muito efêmero.
Relacionamentos fast-food, pegos numa caixinha em uma balada da moda qualquer, e largados em alguma lixeira 15 minutos depois.
Todos pegando todos, e ninguém lembrando de ninguém.
Namorados que não se vêem no sábado, que preferem sair com os amigos. Que não sentem falta um do outro.
Vejo beijos fazendo fila na boca de qualquer um/uma...

Vejo a ostentação sendo usada muito eficazmente como uma arma na busca por sexo... E vejo pessoas caindo nessa! O ingresso de tanto, o passe que é VIP, o dono de tal empresa, o "amigo" influente, a bebida mais cara, a casa da moda, as roupas de marca, o carro mais caro...

Eu vejo a sinceridade virando algo conveniente e circunstancial: não ouço mentiras, mas tampouco ouço as verdades, pois elas são escondidas.
Eu vejo a falta de franqueza; a falta do vou-dizer-na-tua-cara.

Eu vejo a falta de envolvimento, despreocupação com os sentimentos alheios: vejo um jogo de conquistas, e os sentimentos virarem troféus.
Eu vejo a busca pelo prazer rápido, descomprometido, descartável.
Eu vejo relacionamentos tapa-buracos, convenientes para preencher as happy(dead)-hours pós trabalho.
Vejo pessoas se comunicando online num domingo, estando na mesma cidade, estando às vezes na mesma sala...
Eu fico triste vendo as pessoas se tratando e sendo tratadas como joguetes.
Amigos amarelos; máscaras sociais; joguinhos sociais; comportamentos subliminares.
Eu vejo todas essas coisas em excesso, dia após dia. E me falta o que preencha a minha alma. E duvido que essas coisas preencham alguma alma, aliás.

Eu sinto pena pelas pessoas que agem assim; e que de fato acreditam (isso é o pior) estarem fazendo o melhor para si. Pena porque talvez nunca descubram de verdade uma felicidade mais longa.
Eu vejo pressa em ter-se o que não importa, e paciência demais, morosidade demais em se buscar as coisas que importam. Todos querem status, carreira, dinheiro; ninguém quer música, companheirismo, risadas, jantar em família...
Todos perguntam "O que você faz?"; ninguém pergunta "O que você quer fazer?".
Todos perguntam "Onde você mora?"; ninguém pergunta "Aonde você vai?".
Eu vejo conformismo, e isso me indigna...
Valores invertidos. Mundo de pontacabeça.

Eu vejo escravos da vida estudar-trabalhar-casar-ter-filhos; escravos das normas; escravos do que a família-amigos-sociedade vai pensar; escravos do conformismo das coisas-que-são-assim-e-não-vão-mudar.
Eu vejo pessoas desistindo de tudo muito fácil, pelas mais esfarrapadas desculpas: desistindo dos sonhos, desistindo de uma paixão, desistindo de uma aventura, desistindo de um amor. Mentem à si mesmas.

Eu vejo pessoas desacreditando que a bondade existe em maior oferta no coração das pessoas do que existem a sacanagem, a malandragem, a maldade, o desrespeito.
Isso me lembra um pouco o fundamento do terrorismo, sobrevivente pelos noticiários da noite ou através das páginas policiais de jornal... Porque embora haja sim sacanagem, malandragem e maldade, tudo isso é muito pequeno, mas causa um impacto muito grande.
As pessas mudam de comportamento porque amplificam uma percepção negativa muito além do que deveriam. As pessoas mudam de comportamento porque passam a sentir medo demais. E todos, aterrorizados, ficam imóveis. Rugido de um tigre: pessoas imóveis! Situação adversa: pessoas imóveis! Terrorismo: pessoas imóveis! Medos, medos, medos: pessoas imóveis dentro de si; pessoas egoístas; pessoas que não se deixam levar. Merda de cérebro que funciona assim.

E eu vejo muitas pessoas com medo: de sofrer, de se entregar, de persistir, de se arriscar... Morrendo sem saber. Vivendo sem sentir. Sentindo até, mas muito pouco; muito menos do que poderiam... E por que? Porque têm medo. Não há como sentir o máximo sem que seja se arriscando ao máximo também.
Mas o medo de sentir-se mal é maior do que o benefício de sentir-se bem, paradoxalmente.
Isso não entra na minha cabeça: como alguém prefere o não-sentir ao sentir-se muito bem, só por existir um risco de sentir-se mal?! Zumbis... Zumbis é que não sentem! Sinto como se tivesse nascido no lugar errado, na época errada.
Que graça tem viver uma vida que um dia acaba - sempre - se for só pra deixar ela passar pela gente?! Sentir-se mal, que seja, não vale mais a pena?! Sentir-se bem, não vale o risco?!

Só a coragem enfrenta o medo. Só a fé - que é acreditar por acreditar, sem ter certezas - é capaz de gerar coragem.
Falta fé.

Eu só quero dizer que eu não faço parte dessa merda.
Um contra-argumento seria me perguntar se eu sou feliz. Não sou; e é cada vez mais difícil. Mas eu ainda tenho fé.
E quando eu for, vai ser 100%, não pela metade.
A minha fé é que haja mais alguém que também não faça parte dessa merda toda... E se houver, não diga, simplesmente: haja com um pouco mais de caráter, com uma pitada a mais de coragem. Terás assim ajudado o mundo a viver um pouco melhor. E terás me ajudado também.

-- João Otero - 14-mai-10 --