14 agosto 2008

Paixão e Amor (piegas, eu sei)

- por João Otero - 14/agosto/08

Enjôo muito facilmente.
Sempre me perguntei "como?" é que pessoas encontram suas almas-gêmeas e que diabos de amor é esse que faz as pessoas ficarem juntas para o resto da vida...
Na ignorância da minha adolescência sempre me pareceu impossível; no máximo, conformista.
Mas na análise das motivações acerca das separações (e que são muitas aqui nos EUA!) e na discussão entre amigos sobre a perecividade (ou não) da paixão, acabei por achar a minha resposta.

Pois que seja a paixão perecível, e que o amor não se sustente sem paixão, como sobrevivem os amores? Ou seriam apenas conveniências e conformismos os sobreviventes?
Mas e a paixão platônica, eterna, romancista, literária - existiria? Que sem graça a vida em não existindo!

Pois minha resposta é simples: o amor não sobrevive sem paixão - fato; mas as paixões não cessam, e sim se transformam.
Há três fases básicas, talvez quatro (ou até mais) nos relacionamentos longevos, todos sustentados por paixão, e que constróem o amor verdadeiro.
Primeiro há a paixão-larva, essa que se canta nas músicas, facilmente reconhecível, arrebatadora; seu propósito é a união inicial, a atração. E ela dura um tempo.
Depois, a paixão-casulo, trabalhosa, cultivante, se preparando para merecedora da borboleta....
E enfim a paixão-borboleta: reconhecedora de todo o esforço, colorida e orgulhosa dele.

A característica intrínseca mais marcante de qualquer paixão pode talvez ser a "descoberta". Cujo antônimo, o "tédio", define também justamente o seu ocaso. E então, se o romance-larva sobreviveu aos demais infortúnios e provações, é hora de trocar de brinquedo. E há no curso natural da vida outras "descobertas" a que se apaixonar: filhos podem ser uma nova motivação comum, um novo jogo, um novo desafio. Vira-se casulo.

Durante esse jogo, mais tarde, construiu-se, sem se perceber, um livro. E a história ganha peso suficiente, e alegrias e obstáculos acumulados o suficiente, para pôr na balança e justificar decisões, manter união, fazer valer a pena. Está-se borboleta.

E quem sabe ainda vêm os netos... (E sei lá eu o que acontece com as borboletas...)

A paixão nunca deixa de existir. Muda de cara. Mas está sempre lá, prestando suporte ao amor.
...Mas e eu, que enjôo muito facilmente?!
Bem, acho que ainda sou larva.

Se quiserem, me chamem de "verme"... ;)
Ou, a quem se arriscar, convença-me a casulo.