30 abril 2014

Folhas - Parte 1





O olhar ouriçado. Quase que se acendia tal duas luas-cheias estampadas no rosto maravilhado,
fazendo ciúmes às estrelas que, enquanto crescia o olhar, iam se apagando e sumindo no céu...
As luzes de todos os lados parece que se ajuntavam mirando num ponto só.
E mais brilhante que a esperança daquele olhar, só ela - aqueles doces fios dourados, suspensos no tempo e iluminados pelo foco de atenção irradiante do menino.
Quem passasse por ali e se atrevesse a lançar atenção àquele olhar estático perdido no nada vazio daquela calçada enfolharada, nada compreenderia daquela cena noturna de outono. Não perceberia que era cena de veranico ensolarado. Não enxergaria o calor das duas mãos unidas daqueles anos atrás que não estavam mais ali.
Tampouco enxergaria o menino.
Veriam um velho. Um sorriso semi-aberto. Uma curiosidade passageira. E seguiriam seu caminho sem dispender muito tempo nem compreender coisa alguma.
Talvez pisassem nas folhas secas da calçada sem nem notar as outras que redemoinhavam ao lado.
O redomoinho de folhas secas iluminado de olhar saudoso de um menino ainda vivo naquele peito tão velho.
Foi naquele veranico...

(continua...)




-- João Otero - 30-abr-2014 --