05 dezembro 2008

Sorte

com uma parca sorte
sempre atrasada

e numa vida em morte
embrulhada

com a bixada pança
empanturrada

com a esperança em cólica
maltratada

umas tristes mágoas
afogadas

em lágrimas alcoólicas
com a testa inchada

tendo as unhas sujas,
e com mãos farpadas

que na enchada sofrem
calejadas

ao ungir a boca
seca e desgraçada

e tendo a rasa vala
sempre almejada

(que de nenhuma sorte
nunca é alcançada)

levantou a água
beatificada

e ao beijar a taça
grossa e maculada

foi tombar ao largo
da fria calçada

-- Joao Otero, 5-dez-2008 --

20 novembro 2008

Angel

If I saw a butterfly,
with wings wide open
floating in the air...
like seeing you passing by
with your sweet green eyes
making me swear
that if I had a chance
I would not miss it,
that if I had your lips
they would've been kissed!
I think that no... I wouldn't swear!
I would have waited
and let her free
to choose the best time
to come to me.
But, see, this butterfly...
your're not like her.
I see more colors in your delicate skin
I see more truth in your human sins
...and I see a sun that isn't fair.
'Cause it goes down, and you'll be gone.
Tomorrow night I'll be alone
- no butterly to dance to me!
So, time is running, and I can't wait.
And even thought with foolish faith,
I have to try to catch your flight,
in kisses, pictures, 'round my arms...
I have to try to hold you tight,
at least to think that I can hide
the sun from time,
the time from you
...and freeze your wings.

-- Joao Otero nov-2008 --

10 novembro 2008

Teal

there's a fading blurred line
between deep ocean
and sky,

there where you lose your eyes
into the waves
- or clouds,

where you don't know if you'll go
to where your heart loudly shouts,

where you don't know if you'll drown,
or maybe float,
or just walk

away from the shooting star
where once upon was a sign
to guide your sight and your route

-- Joao Otero nov/2008 --

01 outubro 2008

Causo

Dizia meu vô que certa vez ao entrar num banheiro dum restaurante de beira-de-estrada ouviu alguém exclamar lá de dentro aos demais do recinto: "...Mas uma cagada é a melhor coisa do mundo!".
Admirado, eis que meu vô responde:
"Ou esse cara não sabe foder, ou sou eu que não sei cagar!".

É... Vivendo e aprendendo.

28 agosto 2008

Bifurcações




britadeiras barulhentas, batidas, barbáries...
belo benfeitor, baratos bifocais.
benditas badaladas!
bonde, bifurcação, bosque...bordel!
bisbilhotices, baralhos, bizarrices bestiais
banho, belas brincando, barbitúricos, Ballantines
bolso balançando... barganha...
bala!
corpo boiando.



Veja outros poemas da coleção Letras

-- João Otero - 2-mar-2005 --

14 agosto 2008

Paixão e Amor (piegas, eu sei)

- por João Otero - 14/agosto/08

Enjôo muito facilmente.
Sempre me perguntei "como?" é que pessoas encontram suas almas-gêmeas e que diabos de amor é esse que faz as pessoas ficarem juntas para o resto da vida...
Na ignorância da minha adolescência sempre me pareceu impossível; no máximo, conformista.
Mas na análise das motivações acerca das separações (e que são muitas aqui nos EUA!) e na discussão entre amigos sobre a perecividade (ou não) da paixão, acabei por achar a minha resposta.

Pois que seja a paixão perecível, e que o amor não se sustente sem paixão, como sobrevivem os amores? Ou seriam apenas conveniências e conformismos os sobreviventes?
Mas e a paixão platônica, eterna, romancista, literária - existiria? Que sem graça a vida em não existindo!

Pois minha resposta é simples: o amor não sobrevive sem paixão - fato; mas as paixões não cessam, e sim se transformam.
Há três fases básicas, talvez quatro (ou até mais) nos relacionamentos longevos, todos sustentados por paixão, e que constróem o amor verdadeiro.
Primeiro há a paixão-larva, essa que se canta nas músicas, facilmente reconhecível, arrebatadora; seu propósito é a união inicial, a atração. E ela dura um tempo.
Depois, a paixão-casulo, trabalhosa, cultivante, se preparando para merecedora da borboleta....
E enfim a paixão-borboleta: reconhecedora de todo o esforço, colorida e orgulhosa dele.

A característica intrínseca mais marcante de qualquer paixão pode talvez ser a "descoberta". Cujo antônimo, o "tédio", define também justamente o seu ocaso. E então, se o romance-larva sobreviveu aos demais infortúnios e provações, é hora de trocar de brinquedo. E há no curso natural da vida outras "descobertas" a que se apaixonar: filhos podem ser uma nova motivação comum, um novo jogo, um novo desafio. Vira-se casulo.

Durante esse jogo, mais tarde, construiu-se, sem se perceber, um livro. E a história ganha peso suficiente, e alegrias e obstáculos acumulados o suficiente, para pôr na balança e justificar decisões, manter união, fazer valer a pena. Está-se borboleta.

E quem sabe ainda vêm os netos... (E sei lá eu o que acontece com as borboletas...)

A paixão nunca deixa de existir. Muda de cara. Mas está sempre lá, prestando suporte ao amor.
...Mas e eu, que enjôo muito facilmente?!
Bem, acho que ainda sou larva.

Se quiserem, me chamem de "verme"... ;)
Ou, a quem se arriscar, convença-me a casulo.

04 agosto 2008

Best Doughnut in the World Ever


This bakery in Philadelphia makes the best doughnut in the world, as the picture can show by itself.

25 julho 2008

Franqueza

Já aprendi que não se muda ninguém.
E cabe a ti aceitar ou recusar o que é, do jeito que é. Só te cabe a escolha, e nada mais.
Triste, como pode parecer; mas simples. A vida é muito simples. Nós é que teimamos em complicar.
A verdade é estampada. Cabe a ti ser apenas franco.

E vale notar que a franqueza difere da verdade.
A verdade é impessoal, o cerne de um fato. A franqueza transcende a verdade: é um valor e define caráter.
A verdade é implícita; a franqueza, explícita.
A verdade pode ser mascarada, omitida; a franqueza não.
A franqueza é a verdade proposital, não apenas circunstancial; não espera ser inquirida, indagada ou examinada; ela é apresentada expontaneamente, crua e sem intenção.
A verdade pode acompanhar a dúvida; a franqueza é companheira apenas da certeza - seja ela qual for.

Entre a verdade e a franqueza, prefiro receber o tratamento da última. Mesmo na dor que ela eventualmente provoque, e que a simples verdade - ou sua falta - poupasse. Porque a dor da franqueza é derradeira: é o chão, e de lá se constrói o alicerce, sabendo-se que o terreno é firme.

E mesmo que ambas se anteponham à mentira, o fazem em diferentes maneiras. A verdade aceita sua convivência, eventualmente. Mas a franqueza não.

E essa mentira, que "tem pernas curtas", é um fenômeno entrópico. Muita energia é necessária para que ela sobreviva...
E toda essa energia, física e psíquica, consome. Causa pequenas frustrações que se acumulam e influenciam. Tanto para o enganado quanto para o enganador.
Toda mentira cai em contradição, eventualmente, se levada por muito tempo. E mesmo o pior dos cegos, um dia a vê.
E para ambos o enganador e o enganado, a noção consciente de se estar afastando-se de seus próprios princípios, dos valores que cada um tem a si próprio como certo e errado, leva invariavelmente ao destino da amargura.

E é claro que há mentiras inocentes: mas atribua-as grau pela tua própria consciência, pois tua consciência nunca trai
a ti mesmo, mesmo que tu queiras ter-te enganado. O teu certo e o teu errado, embora relativos aos demais, são absolutos a ti, e por conta deles é que te definirás feliz ou amargo.

Então, para quê desperdiçar tempo, fechando os olhos? Encurte-se o caminho - a franqueza é uma aliada.
Cutuque tua própria ferida. Dê a cara a tapa. Assuma teus erros. E assuma teus desencantos também.
Tão mais logo quanto o fizeres, tão mais vivo e livre serás.
Nao te contentes em ser apenas verdadeiro, mesmo que não te favoreça de imediato: sejas franco.

-- por João Otero - 25-jul-08 --

01 junho 2008

Politics should be more about the art of coordinating and less about the art of influencing.

21 maio 2008

A Formiguinha e a Neve (adaptação, sem censura, por João Otero)

E a Formiguinha que prendeu o pézinho na neve, disse pra Neve:
- Óh Neve, tu que és tão forte, solta o meu pézinho?
A Neve então respondeu:
- Mais forte que eu é o Sol, que me derrete.
A formiguinha então se voltou ao Sol, e lhe pediu:
- Óh Sol, tu que és tão forte que derrete a Neve, que prende o meu pézinho, solta o meu pézinho?
Ao que o Sol respondeu:
- Mais forte que eu é o Muro, que me tapa.
Voltando-se então ao Muro, disse a formiguinha:
- Óh Muro, tu que és tão forte que tapa o Sol, que derrete a Neve, que prende o meu pézinho, solta o meu pézinho?
O Muro lhe disse então:
- Mais forte que eu é o Rato, que me fura.
A Formiguinha então implorou ao Rato:
- Óh Rato, tu que és tão forte que fura o Muro, que tapa o Sol, que derrete a Neve, que prende o meu pézinho, solta o meu pézinho?
- Mais forte que eu é o Gato - disse o Rato - que me come.
Nisso, então, a Formiguinha pediu ao Gato:
- Óh Gato, tu que és tão forte que come o Rato, que fura o Muro, que tapa o Sol, que derrete a Neve, que prende o meu pézinho, solta o meu pézinho?
O Gato, apressado, lhe respondeu:
- Mais forte que eu é o Homem, que me caça.
Vendo o Homem se aproximar, a Formiguinha num alento voltou-se ao Homem:
- Óh Homem, tu que és tão forte que caça o Gato, que come o Rato, que fura o Muro, que tapa o Sol, que derrete a Neve, que prende o meu pézinho, solta o meu pézinho?
- Ô Formiguinha... tu tanto ficou nessa lenga-lenga que não tá vendo que a neve já derreteu faz horas?
- Óh! Nem havia me apercebido! Muito obrigado, óh Homem!
- Que é isso, nem me agradece... Agradece àquele gato pederasta que come o Rato, que fura o Muro, que tapa o Sol, que derrete a Neve... Falando nisso, cadê o Gato?! Pôrra, Formiguinha...!
...E num acesso de fúria, era uma vez uma Formiguinha.

-- João Otero - 13-mai-2008 --

07 março 2008

Estrela

Se a cada estrela que te pende ao rosto
pendesse um brilho e uma promessa
cego estaria a jurar sem pressa
como tu és linda, como te gosto

E se a cada tempo em que eu me pegasse
perdendo as horas no meu delírio
e com tua estrela cegante em brilho
o meu olhar sufocasse,
que triste a vida se eu não jurasse
que eu morria um pouquinho!

-- Joao Otero - 7-dez-2008 --

pensamento: Mulher Ideal

Se a minha mulher ideal é tão perfeita...
...que diabos iria ela querer comigo?!