Não consegui extravasar o tanto de emoção que eu senti
entre a doçura e a aspereza
da minha infância e do destino que me tem incerto.
Não consegui desvencilhar-me da certeza
que desviar-me da pureza é o jeito certo de prosseguir atrapalhado.
E por mais que todos tenham me falado
que o coração é o caminho acertado,
olho pra ele - e ele apertado, agarrando-se nuns minutos vagos dum presente misturado em uns muitos sonhos -
e vendo ao lado que nessa estrada restaram só alguns poucos desgarrados
- heróis minguados, já costurando suas chagas -
não consegui extravasar do jeito certo
a costumeira incerteza diária e companheira
do meu marasmo e das besteiras que eu não fiz.
E o jeito errado de seguir do jeito certo,
talvez um dia isso me seja revelado
na orelha dum livro, num acorde, num suspiro gritado...
E porquanto sendo ignorante, fazendo certo, seguindo parado,
não consegui extravasar-me da angústia,
de nesta minha meia-vida
- ainda -
não conseguir ter feito nada certo
nem nada errado.
-- João Otero - 17-dez-09 --
17 dezembro 2009
01 dezembro 2009
Obra-prima
Teus retorces; obra-prima do meu gozo!
Em consentidos arranhos nas ancas e sôfregos suspiros de inclemente agonia,
Na escalada ansiosa ante o abismo sem-volta do regozijo - e da revolta - que eu sentia...
Tu, três vezes mais te contorcias
E eu, dopado de alegrias breves mais tardias,
Não antevia o grande nojo, que se estanca, mas que derrama - ah! se derrama, um dia...
E nestas tintas sangradas das telas de minhas retinas
Guardarei teu semblante apertado, o teu batom vermelho borrado, a tua boca suculenta mordida...
Tuas pernas tremulando atravessadas, teu cabelo crespo esparramado e a tua mão entreaberta, estendida.
E deste embate enegrecido e retalhado és meu despojo;
Tu, suprema obra-prima do meu nojo,
Retorce entorpecido da minha vida!
-- João Otero - 28/29-nov-09 --
Em consentidos arranhos nas ancas e sôfregos suspiros de inclemente agonia,
Na escalada ansiosa ante o abismo sem-volta do regozijo - e da revolta - que eu sentia...
Tu, três vezes mais te contorcias
E eu, dopado de alegrias breves mais tardias,
Não antevia o grande nojo, que se estanca, mas que derrama - ah! se derrama, um dia...
E nestas tintas sangradas das telas de minhas retinas
Guardarei teu semblante apertado, o teu batom vermelho borrado, a tua boca suculenta mordida...
Tuas pernas tremulando atravessadas, teu cabelo crespo esparramado e a tua mão entreaberta, estendida.
E deste embate enegrecido e retalhado és meu despojo;
Tu, suprema obra-prima do meu nojo,
Retorce entorpecido da minha vida!
-- João Otero - 28/29-nov-09 --
Não quero mais
Terminar é o que eu mais sei na minha vida
Terminar, não concluir;
Terminar assim, sem o por-vir
É o que mais tenho feito nesta vida
Eu sei deixar aberta minha ferida
Eu sei voltar de um beco-sem-saída
Com um passo nem tão calmo, mas nem manco
E quando se me dá em solavanco minha partida,
Percebo que minha alma, ressentida,
Se apega outra vez num sopro franco...
Terminar é o que eu mais fiz durante a vida
Terminar, não concluir;
Terminar sem mais, com dor, sem rir...
"Não quero mais" - hei de mentir
Terminar, talvez, pra não sentir
Minha parca esperança iludida
-- João Otero - 19-nov-09 --
Terminar, não concluir;
Terminar assim, sem o por-vir
É o que mais tenho feito nesta vida
Eu sei deixar aberta minha ferida
Eu sei voltar de um beco-sem-saída
Com um passo nem tão calmo, mas nem manco
E quando se me dá em solavanco minha partida,
Percebo que minha alma, ressentida,
Se apega outra vez num sopro franco...
Terminar é o que eu mais fiz durante a vida
Terminar, não concluir;
Terminar sem mais, com dor, sem rir...
"Não quero mais" - hei de mentir
Terminar, talvez, pra não sentir
Minha parca esperança iludida
-- João Otero - 19-nov-09 --
Para dizer
Requer-se algum sobejo de sensibilidade alheia para que se possa dizer alguma coisa linda,
...ou alguma coisa extremamente feia.
-- João Otero - 22-nov-09 --
...ou alguma coisa extremamente feia.
-- João Otero - 22-nov-09 --
Poesia a ti
É, eu acho que gosto mesmo de ti...
Me atraquei a ser poeta como nunca vi!
...Eu já penso-poesia quando penso-em-ti!
-- Joao Otero - 5-nov-09 --
Me atraquei a ser poeta como nunca vi!
...Eu já penso-poesia quando penso-em-ti!
-- Joao Otero - 5-nov-09 --
Rio de Janeiro
Fui passsear na bahia
Me disseram que era Rio de Janeiro
Olhei por lado e só vi praia
Não vi o rio;
E é inverno - estamos em julho!
...ou será que é janeiro?
-- João Otero - 1-ago-09 --
Me disseram que era Rio de Janeiro
Olhei por lado e só vi praia
Não vi o rio;
E é inverno - estamos em julho!
...ou será que é janeiro?
-- João Otero - 1-ago-09 --
Na Queda
Se soprarem novos ares...que venham!
Rasgando meu rosto aos uivos, e que tenham
Dó, raiva e desgosto
Elevando minhas asas ao céu, pra eu cair de mais alto!
E que me sinta na queda
Sorver sua carícia fugaz
Gostando do medo que faz
O gélido frio do salto
Pois o que leva, um dia traz...
A emoção contrária da queda
na dura face da pedra,
a qual um dia beijei
No frio de uma dor assaz
Vivi a vida que fiz
Onde jamais alguém quis,
Um dia estive
e voltei!
-- João Otero - 1-mai-03 --
Rasgando meu rosto aos uivos, e que tenham
Dó, raiva e desgosto
Elevando minhas asas ao céu, pra eu cair de mais alto!
E que me sinta na queda
Sorver sua carícia fugaz
Gostando do medo que faz
O gélido frio do salto
Pois o que leva, um dia traz...
A emoção contrária da queda
na dura face da pedra,
a qual um dia beijei
No frio de uma dor assaz
Vivi a vida que fiz
Onde jamais alguém quis,
Um dia estive
e voltei!
-- João Otero - 1-mai-03 --
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