01 dezembro 2009

Obra-prima

Teus retorces; obra-prima do meu gozo!
Em consentidos arranhos nas ancas e sôfregos suspiros de inclemente agonia,
Na escalada ansiosa ante o abismo sem-volta do regozijo - e da revolta - que eu sentia...
Tu, três vezes mais te contorcias
E eu, dopado de alegrias breves mais tardias,
Não antevia o grande nojo, que se estanca, mas que derrama - ah! se derrama, um dia...

E nestas tintas sangradas das telas de minhas retinas
Guardarei teu semblante apertado, o teu batom vermelho borrado, a tua boca suculenta mordida...
Tuas pernas tremulando atravessadas, teu cabelo crespo esparramado e a tua mão entreaberta, estendida.

E deste embate enegrecido e retalhado és meu despojo;
Tu, suprema obra-prima do meu nojo,
Retorce entorpecido da minha vida!

-- João Otero - 28/29-nov-09 --