17 dezembro 2009

O jeito errado

Não consegui extravasar o tanto de emoção que eu senti
entre a doçura e a aspereza
da minha infância e do destino que me tem incerto.

Não consegui desvencilhar-me da certeza
que desviar-me da pureza é o jeito certo de prosseguir atrapalhado.

E por mais que todos tenham me falado
que o coração é o caminho acertado,
olho pra ele - e ele apertado, agarrando-se nuns minutos vagos dum presente misturado em uns muitos sonhos -
e vendo ao lado que nessa estrada restaram só alguns poucos desgarrados
- heróis minguados, já costurando suas chagas -
não consegui extravasar do jeito certo
a costumeira incerteza diária e companheira
do meu marasmo e das besteiras que eu não fiz.

E o jeito errado de seguir do jeito certo,
talvez um dia isso me seja revelado
na orelha dum livro, num acorde, num suspiro gritado...

E porquanto sendo ignorante, fazendo certo, seguindo parado,
não consegui extravasar-me da angústia,
de nesta minha meia-vida
- ainda -
não conseguir ter feito nada certo
nem nada errado.

-- João Otero - 17-dez-09 --