05 maio 2009

poesia: Soneto da Desforra

Soneto da Desforra

Por entre as frestas ouço - mas que assaz tortura! -
os teus inglórios suspiros e alguns rumores
de que tu me queres afagar com outras dores,
envoltas em ardentes gestos de candura...

Tua vulgar, insípida e inócua peçonha,
dizendo a mais de quatro ventos que me ama -
e quando eu sei que o teu afago me conclama
a ser um mero prisioneiro da vergonha -

não vai nem mesmo conquistar algum despojo.
Pros restos do retalho, dentro da ranhura,
trarei a divina obra-prima do teu nojo:

um ninho de mágoas e horrores requintado
darei a tantas que têm peito atrapalhado;
a essas tantas que mendigam por ternura...

-- João Otero - 5-maio-09 --