04 junho 2014

Desejava tingir a tela branca...






Desejava tingir a tela branca. Vazar-lhe alguns dos revoltosos vermes destas pulsantes veias. Verter-lhe uns vícios e alguns mesquinhos risos e o meu veneno lento. Compartilhar-lhe os fardos do carcomido peito. …E nem com o teto destelhado; com a janela aberta e o galho debruçando-se; com a barriga em cólica; nem sem ninguém ver: sozinhas, cá comigo e com o vento; e nem pela ponta dos dedos - essas palavras não saem… Fiéis espasmos que desconheço - e que remexem em mim
o que eu desprezo tanto.




— João Otero - 4-mai-2014 —