A poesia
a mim
vem como uma criança
assim
como a esperança
de voltar a sentir aqueles anos
tão cheios de planos
tão leves de enganos
por mais um dia
-- João Otero - 27-dez-2011 --
26 dezembro 2011
17 dezembro 2011
Faquir
Faquir
foi faquir de seus próprios sonhos
com agulhadas, com nostalgia
foram tantos os desesperos que nem mais sentia
e nessa cama de cacos a sempre embalar seu sono
suspendeu-se acima de quaisquer mazelas
e com nenhuma ferida, em apatia
pairou lá, adormecida, e nem sabia
que lhe ninavam as estrelas
-- João Otero - 17-dez-2011 --
foi faquir de seus próprios sonhos
com agulhadas, com nostalgia
foram tantos os desesperos que nem mais sentia
e nessa cama de cacos a sempre embalar seu sono
suspendeu-se acima de quaisquer mazelas
e com nenhuma ferida, em apatia
pairou lá, adormecida, e nem sabia
que lhe ninavam as estrelas
-- João Otero - 17-dez-2011 --
30 outubro 2011
O silêncio e a sacolinha
o silêncio roçou meus dentes
despido de melodia
...ele simplesmente não sabia
qual nota desafinar
logo o vi dobrando a esquina
pegar carona num vento
e assobiar...
fugiu com uma sacolinha...
e talvez tenha esquecido
algumas palavras pra trás
-- João Otero - 31-out-2011 --
despido de melodia
...ele simplesmente não sabia
qual nota desafinar
logo o vi dobrando a esquina
pegar carona num vento
e assobiar...
fugiu com uma sacolinha...
e talvez tenha esquecido
algumas palavras pra trás
-- João Otero - 31-out-2011 --
26 outubro 2011
Olhos de ver
quando nasceu o meu olhar
desabrochando um sonho
com olhos de ver
que eu nunca havia tido
quando antevi o perigo
que a estabilidade tem
em embalar o tempo
com mesmice
resgatei a criancice
inocente do impossível
e pintei uma tela
com o que não existe
e então eu soube por que viver
-- João Otero - 26-out-2011 --
desabrochando um sonho
com olhos de ver
que eu nunca havia tido
quando antevi o perigo
que a estabilidade tem
em embalar o tempo
com mesmice
resgatei a criancice
inocente do impossível
e pintei uma tela
com o que não existe
e então eu soube por que viver
-- João Otero - 26-out-2011 --
23 outubro 2011
Porque pediste pra eu falar de cores (Verde)
E a barba grisalha de um velho
que ali mendiga
E a esperança...
E o limo, a pedra, a Pátria
escorregando
E a desavença...
E a folha tão frágil
tombando
Mas não ao vento
E a mata - enquanto há mata -
antes que mate-se
o sentimento
Veja outros poemas da coleção Cores
-- João Otero - 23-out-2011 --
que ali mendiga
E a esperança...
E o limo, a pedra, a Pátria
escorregando
E a desavença...
E a folha tão frágil
tombando
Mas não ao vento
E a mata - enquanto há mata -
antes que mate-se
o sentimento
Veja outros poemas da coleção Cores
-- João Otero - 23-out-2011 --
20 outubro 2011
Poetic Dialog with Robert Frost
Poetic Dialog with Robert Frost
I know, my friend, I'm getting old.
And true, some things are hard to hold...
The golden green of morning breath;
And drops of hope along the path.
As we both know, the bright sun fades.
Yet, in the poles, it longer stays.
I'd rather sit here far away
but keep this gold all day.
-- João Otero - oct-20-2011 --
I know, my friend, I'm getting old.
And true, some things are hard to hold...
The golden green of morning breath;
And drops of hope along the path.
As we both know, the bright sun fades.
Yet, in the poles, it longer stays.
I'd rather sit here far away
but keep this gold all day.
-- João Otero - oct-20-2011 --
16 outubro 2011
Porque pediste pra eu falar de cores (Marrom)
...e vi as folhas caindo
embalando o tempo
a levantar poeira
há a foto velha em minha memória
alguns cafés às tardes virando história
e vou vivendo à brasileira
neste passatempo
às vezes lindo...
Veja outros poemas da coleção Cores
-- João Otero - 16-out-2011 --
embalando o tempo
a levantar poeira
há a foto velha em minha memória
alguns cafés às tardes virando história
e vou vivendo à brasileira
neste passatempo
às vezes lindo...
Veja outros poemas da coleção Cores
-- João Otero - 16-out-2011 --
14 outubro 2011
Linda
métrica perfeita da formosura...
alguma coisa que tens é a loucura
renunciando a minha cautela
traíste a beleza: és mais bela!
incandesceste a ternura
na perfeição que modela
atentamente teus traços
lapidados em um só passo
intencional de candura
nem mesmo um dó se desvela...
dessa dor que me flagela
aténs-te à beleza mais pura
-- João Otero - 14-out-2011 --
alguma coisa que tens é a loucura
renunciando a minha cautela
traíste a beleza: és mais bela!
incandesceste a ternura
na perfeição que modela
atentamente teus traços
lapidados em um só passo
intencional de candura
nem mesmo um dó se desvela...
dessa dor que me flagela
aténs-te à beleza mais pura
-- João Otero - 14-out-2011 --
11 outubro 2011
Porque pediste pra eu falar de cores (Vermelho)
E há essa rubra feição em meio à ingênua maldade
...esse rubror da serpente;
a cor das maçãs na face
E há o borrado batom nas esquinas da cidade
...esse rosado que veste
a nua pele em disfarce
E o há numa língua ansiosa, porém que diz a verdade
Ele, às paixões, dá uma rosa
ou tinge o chicote que arde
Veja outros poemas da coleção Cores
-- João Otero - 11-10-11 --
...esse rubror da serpente;
a cor das maçãs na face
E há o borrado batom nas esquinas da cidade
...esse rosado que veste
a nua pele em disfarce
E o há numa língua ansiosa, porém que diz a verdade
Ele, às paixões, dá uma rosa
ou tinge o chicote que arde
Veja outros poemas da coleção Cores
-- João Otero - 11-10-11 --
06 outubro 2011
03 outubro 2011
16 setembro 2011
A minha alma
A minha alma
roendo as unhas
rangendo os dentes
mexendo as pernas
resmungo preces
e a minha alma
antes desnuda
de que se veste?
atrás dos panos
depois dos planos
passado os anos
ela se veste...
a minha alma
regada a sonhos
me desmerece
-- João Otero - 16-set-2011 --
roendo as unhas
rangendo os dentes
mexendo as pernas
resmungo preces
e a minha alma
antes desnuda
de que se veste?
atrás dos panos
depois dos planos
passado os anos
ela se veste...
a minha alma
regada a sonhos
me desmerece
-- João Otero - 16-set-2011 --
21 agosto 2011
Reflexão Cinestésica para Pensar em Voz Alta
Reflexão Cinestésica para Pensar em Voz Alta
Uma vela
acesa pra ver...
[1 pausa]
Mas quantas velas
pra não se poder mais
conseguir olhar?
[1 pausa]
E tantos corações
fazendo o peito bater
[1 pausa]
[sussurrando:] mais rápido
[1 pausa]
Mas um só coração
deixando o peito pairar
[1 pausa]
[sussurrando:] estático
[2 pausas]
O que devem fazer
[inspira fundo, enchendo todo o pulmão]
[em voz alta, num só sopro:] aqueles que sorvem os extremos sem
/nem sequer saber que gotas
/são mares e mares são poças?
[inspira fundo]
...Questões que são perigosas
[1/2 pausa]
em faltar respostas.
-- João Otero - 21-ago-2011 --
Uma vela
acesa pra ver...
[1 pausa]
Mas quantas velas
pra não se poder mais
conseguir olhar?
[1 pausa]
E tantos corações
fazendo o peito bater
[1 pausa]
[sussurrando:] mais rápido
[1 pausa]
Mas um só coração
deixando o peito pairar
[1 pausa]
[sussurrando:] estático
[2 pausas]
O que devem fazer
[inspira fundo, enchendo todo o pulmão]
[em voz alta, num só sopro:] aqueles que sorvem os extremos sem
/nem sequer saber que gotas
/são mares e mares são poças?
[inspira fundo]
...Questões que são perigosas
[1/2 pausa]
em faltar respostas.
-- João Otero - 21-ago-2011 --
28 julho 2011
música: Teu herói
Teu herói
eu queria poder te embalar
numa nota alegre, todo dia
eu queria fazer versos de criança
imaginando
como será a vida
eu queria poder fingir que não cresci
e sair piruetando
por aí
mas não cabe, meu nenêm,
muito mais de fantasia
quando a noite é fria
e o dia vem
eu queria te dizer que a matemática
e que todas as coisas têm sentido
e que brincar com fogo é pura mágica
e que brincar no mar não tem perigo
mas eu preciso te dizer que a saudade dói
e que eu queria poder ser teu herói
pra te dar a mão
te proteger das armadilhas
do teu coração
...pois eu sei que elas vêm
(mas também passam como um trem)
só sei que eu vou te ver
eu vou te ver
mesmo que passe um tempo
longe de você
eu sei que eu vou te ver
eu vou te ver
mesmo que caia o mundo
eu vou ir te ver
eu queria te dizer que beterraba é bom
e que você nunca irá desafinar o tom
eu queria te dizer que não engorda o chocolate
e que não morde mesmo o cão que late
...mas não posso ignorar o pára-brisa
balançando essa chuva
neste dia cinza
...quando você crescer
você vai me entender
só sei que eu vou te ver
eu vou te ver
mesmo que passe um tempo
longe de você
eu sei que eu vou te ver
eu vou te ver
mesmo que caia o mundo
eu vou ir te ver
e se acaso a professora te aborreça
eu queria te contar que ela é besta
mesmo que um dia você cresça
e que mudem as vontades na cabeça
não se esqueça de ser você
nunca desapareça
meu bebê
só sei que eu vou te ver
eu vou te ver
mesmo que passe um tempo
longe de você
eu sei que eu vou te ver
eu vou te ver
mesmo no fim do mundo
eu vou ir te ver
-- João Otero - 27-jul-2011 - pelos meus 31 anos, para minha sobrinha Valentina --
eu queria poder te embalar
numa nota alegre, todo dia
eu queria fazer versos de criança
imaginando
como será a vida
eu queria poder fingir que não cresci
e sair piruetando
por aí
mas não cabe, meu nenêm,
muito mais de fantasia
quando a noite é fria
e o dia vem
eu queria te dizer que a matemática
e que todas as coisas têm sentido
e que brincar com fogo é pura mágica
e que brincar no mar não tem perigo
mas eu preciso te dizer que a saudade dói
e que eu queria poder ser teu herói
pra te dar a mão
te proteger das armadilhas
do teu coração
...pois eu sei que elas vêm
(mas também passam como um trem)
só sei que eu vou te ver
eu vou te ver
mesmo que passe um tempo
longe de você
eu sei que eu vou te ver
eu vou te ver
mesmo que caia o mundo
eu vou ir te ver
eu queria te dizer que beterraba é bom
e que você nunca irá desafinar o tom
eu queria te dizer que não engorda o chocolate
e que não morde mesmo o cão que late
...mas não posso ignorar o pára-brisa
balançando essa chuva
neste dia cinza
...quando você crescer
você vai me entender
só sei que eu vou te ver
eu vou te ver
mesmo que passe um tempo
longe de você
eu sei que eu vou te ver
eu vou te ver
mesmo que caia o mundo
eu vou ir te ver
e se acaso a professora te aborreça
eu queria te contar que ela é besta
mesmo que um dia você cresça
e que mudem as vontades na cabeça
não se esqueça de ser você
nunca desapareça
meu bebê
só sei que eu vou te ver
eu vou te ver
mesmo que passe um tempo
longe de você
eu sei que eu vou te ver
eu vou te ver
mesmo no fim do mundo
eu vou ir te ver
-- João Otero - 27-jul-2011 - pelos meus 31 anos, para minha sobrinha Valentina --
20 julho 2011
Minha Voz - outra versão
Minha Voz - outra versão
minha voz
fala em gestos, embalada
num compasso triste
como se comendo alpiste
grão por grão
minha voz
tem a garganta machucada
de ajoelhar-se dia a dia
na costumeira agonia
da mesma lição
-- João Otero 19-20/jul/2011 --
minha voz
fala em gestos, embalada
num compasso triste
como se comendo alpiste
grão por grão
minha voz
tem a garganta machucada
de ajoelhar-se dia a dia
na costumeira agonia
da mesma lição
-- João Otero 19-20/jul/2011 --
Comemoremos
comemoremos
os remos que levam a vida
como morremos
comemoremos
os vermes que comem
oremos
-- João Otero - 20-jul-2011 --
os remos que levam a vida
como morremos
comemoremos
os vermes que comem
oremos
-- João Otero - 20-jul-2011 --
19 julho 2011
18 julho 2011
Adiante
quero da minha vida
que passe um segundo adiante
e que desta hora, irradiante
se derrame pelo tempo
deixando atrás o momento
que pensei ter visto
como artefato bem-quisto
de um futuro que aguardava
e que agora, com uma clava
me fere o peito.
-- João Otero - 18-jul-2011 --
17 julho 2011
Para lembrar de não ser idiota
Para lembrar de não ser idiota.
A luz é fraca, quase negra, não ilumina. E piscou um pouco até que parou.
Pela fresta da janela eu vejo as folhas de uma árvore balançando ao vento desta noite acinzentada. Garoou o dia inteiro...
De fundo, eu ouço um jazz bem brasileiro na voz dôce de uma negra. Negra como este escuro em que estou. Ouvindo o barulho de água roçando no brasilite.
Não; não é da chuva lá fora. Sou eu, sozinho aqui neste escuro, tentado - bêbado - acertar o mijo no lugar que lhe pertence.
Mijo, sim. Sem vergonha. Por que eu haveria de ter?! Todos mijam... Eu inclusive.
Vergonha, não: há de se guardar o pudor para coisas mais nojentas. Como a burrice, por exemplo. Como a minha burrice...
Que eu tento exorcizar nesse mijo. Que eu tento exorcizar nestas palavras.
Pois no banheiro fedorento de um bar de jazz só se chega depois de algumas cervejas.
No meu caso, ainda somente após confundir a porta da cozinha com porta de banheiro por duas vezes - até entender que, não, não é um mijão eterno preso na portinhola; e sim o cozinheiro. A porta do banheiro é a do outro lado. Mas porra de arquiteto, também!, que pôs a placa do banheiro antes das duas portas.
No meu caso ainda, só depois de muitas cervejas. A ponto de confundir a porta da cozinha com a porta do banheiro duas vezes. Mas acho que já disse isso...
E este jazz, neste bar, é somente a chave dourada para encerrar o meu dia cinzento. Moroso. Chato pra cacete! - se querem mesmo saber.
O dia em que tudo deu errado.
Desde meus times perderem, a mesa do bar quebrar, o pedido ser entregue errado, perder a ex-futura-quase-namorada.
...É, teve essa parte também neste dia.
Teria, por acaso, outro motivo mais nobre para se mijar ao som dum jazz?!
Eu sempre tive uma certa melancolia intrínsica em mim mesmo. E às vezes ela aflora. Se solidão, se pressentimento ou se apenas efeito do Fernando Pessoa a altas horas da madrugada, não sei. Só sei que ela aflora.
E nessas horas, minha cabeça vira um lixo. Junta as peças, conjetura tudo. E invariavelmente conclui que a vida é uma merda.
E em dias como hoje, a vida é realmente essa merda.
Porque não há espaço - parece-me - aos ingênuos, aos sinceros; aos idiotas, em suma, como eu. E por menos ingênuo que eu seja, nessas situações sou um completo idiota.
Porque qual o sonhador que não é idiota? Qual o idealista que não é idiota? Quem, em santa inteligência, acreditaria que as coisas são realmente simples, que tudo é possível, que a distância entre dois amantes separados por mil quilômetros é apenas a largura de um avião, que pelo computador se pode conhecer a pessoa de nossas vidas? Quem em santa inteligência acreditaria que meses de conversa e o som da voz no telefone, e um café ou dois, e umas voltas de carro bastariam para conhecer alguém? Quem em santa inteligente idiotice acredita em juras suspiradas ao pé do ouvido - depois de um beijo?
Nem parece eu! Euzíssimo eu mesmo! Eu, o eu burro - não este, realista. Eu, mais uma vez...
Então bebo. E ouço jazz.
Bebo e ouço jazz porque me seda a burrice.
Porque apesar de não acelerar o tempo, o disfarça.
Serve-me como o remédio - que só tapeia a chaga até que o corpo, por conta, a cure.
Como o remédio, hoje servem-me a cerveja e a cachaça; que se não me cura, pelo menos disfarça a dor que só o tempo cura.
Mijo o que eu puder dessa memória. Mijo lembrando da cara dela.
Mijo com nojo, querendo mijar de mim tudo o que eu me lembro.
Ou talvez não devesse esquecer? Para deixar de ser idiota!
...Ok! Então, eis uma marca de estilete em minha memória.
E que fique aqui neste blog, para todo o sempre.
Amém.
-- João Otero - 17-jul-11 --
A luz é fraca, quase negra, não ilumina. E piscou um pouco até que parou.
Pela fresta da janela eu vejo as folhas de uma árvore balançando ao vento desta noite acinzentada. Garoou o dia inteiro...
De fundo, eu ouço um jazz bem brasileiro na voz dôce de uma negra. Negra como este escuro em que estou. Ouvindo o barulho de água roçando no brasilite.
Não; não é da chuva lá fora. Sou eu, sozinho aqui neste escuro, tentado - bêbado - acertar o mijo no lugar que lhe pertence.
Mijo, sim. Sem vergonha. Por que eu haveria de ter?! Todos mijam... Eu inclusive.
Vergonha, não: há de se guardar o pudor para coisas mais nojentas. Como a burrice, por exemplo. Como a minha burrice...
Que eu tento exorcizar nesse mijo. Que eu tento exorcizar nestas palavras.
Pois no banheiro fedorento de um bar de jazz só se chega depois de algumas cervejas.
No meu caso, ainda somente após confundir a porta da cozinha com porta de banheiro por duas vezes - até entender que, não, não é um mijão eterno preso na portinhola; e sim o cozinheiro. A porta do banheiro é a do outro lado. Mas porra de arquiteto, também!, que pôs a placa do banheiro antes das duas portas.
No meu caso ainda, só depois de muitas cervejas. A ponto de confundir a porta da cozinha com a porta do banheiro duas vezes. Mas acho que já disse isso...
E este jazz, neste bar, é somente a chave dourada para encerrar o meu dia cinzento. Moroso. Chato pra cacete! - se querem mesmo saber.
O dia em que tudo deu errado.
Desde meus times perderem, a mesa do bar quebrar, o pedido ser entregue errado, perder a ex-futura-quase-namorada.
...É, teve essa parte também neste dia.
Teria, por acaso, outro motivo mais nobre para se mijar ao som dum jazz?!
Eu sempre tive uma certa melancolia intrínsica em mim mesmo. E às vezes ela aflora. Se solidão, se pressentimento ou se apenas efeito do Fernando Pessoa a altas horas da madrugada, não sei. Só sei que ela aflora.
E nessas horas, minha cabeça vira um lixo. Junta as peças, conjetura tudo. E invariavelmente conclui que a vida é uma merda.
E em dias como hoje, a vida é realmente essa merda.
Porque não há espaço - parece-me - aos ingênuos, aos sinceros; aos idiotas, em suma, como eu. E por menos ingênuo que eu seja, nessas situações sou um completo idiota.
Porque qual o sonhador que não é idiota? Qual o idealista que não é idiota? Quem, em santa inteligência, acreditaria que as coisas são realmente simples, que tudo é possível, que a distância entre dois amantes separados por mil quilômetros é apenas a largura de um avião, que pelo computador se pode conhecer a pessoa de nossas vidas? Quem em santa inteligência acreditaria que meses de conversa e o som da voz no telefone, e um café ou dois, e umas voltas de carro bastariam para conhecer alguém? Quem em santa inteligente idiotice acredita em juras suspiradas ao pé do ouvido - depois de um beijo?
Nem parece eu! Euzíssimo eu mesmo! Eu, o eu burro - não este, realista. Eu, mais uma vez...
Então bebo. E ouço jazz.
Bebo e ouço jazz porque me seda a burrice.
Porque apesar de não acelerar o tempo, o disfarça.
Serve-me como o remédio - que só tapeia a chaga até que o corpo, por conta, a cure.
Como o remédio, hoje servem-me a cerveja e a cachaça; que se não me cura, pelo menos disfarça a dor que só o tempo cura.
Mijo o que eu puder dessa memória. Mijo lembrando da cara dela.
Mijo com nojo, querendo mijar de mim tudo o que eu me lembro.
Ou talvez não devesse esquecer? Para deixar de ser idiota!
...Ok! Então, eis uma marca de estilete em minha memória.
E que fique aqui neste blog, para todo o sempre.
Amém.
-- João Otero - 17-jul-11 --
A fidelidade é uma eterna dúvida; somente pode ser reforçada, mas jamais auferida.
A infidelidade é facilmente provada, bastando um único fato.
Mas não há um único fato que prove a fidelidade.
A fidelidade, a lealdade, a confiança... todos esses sentimentos exigem plenitude.
E essa propriedade é que distingue os sentimentos que valem realmente a pena.
Porque a plenitude investe o "tempo" para atribuir-lhes valor.
Esses sentimentos não valem por que o "são" neste momento; e sim porque "foram" já por muito tempo.
Se alguém lhe tem lealdade, se alguém lhe tem fidelidade, se alguém lhe tem confiança... cuide bem! É muito difícil conquistá-los.
A infidelidade é facilmente provada, bastando um único fato.
Mas não há um único fato que prove a fidelidade.
A fidelidade, a lealdade, a confiança... todos esses sentimentos exigem plenitude.
E essa propriedade é que distingue os sentimentos que valem realmente a pena.
Porque a plenitude investe o "tempo" para atribuir-lhes valor.
Esses sentimentos não valem por que o "são" neste momento; e sim porque "foram" já por muito tempo.
Se alguém lhe tem lealdade, se alguém lhe tem fidelidade, se alguém lhe tem confiança... cuide bem! É muito difícil conquistá-los.
14 julho 2011
Batom
Beija com saudade meu peito risonho
o borrão vermelho de minha lapela
feito com mordiscos sob luz de vela
pelos dôces rubros lábios de uma bela
ante o ciúme tolo doutros que eu exponho
nesta minha boca que sempre se esmera
e somente a ela pode ser sincera
ao jurar que um beijo vale como um sonho.
-- João Otero - 14-jul-2011 --
04 julho 2011
A impossibilidade de tocar a ausência - com a certeza de senti-la...
Não compreender o infinito - nem tampouco conceber um fim sem que haja algo depois...
Dar nome ao nada - que é algo que não existe e nem sequer é imaginável...
Marcar-se na testa com a consequência do tempo - mas sem jamais descobrir sua causa...
Viver e morrer ao mesmo tempo - e contentar-se em não ter um propósito na imensidão desse tudo
...que o é, por si só, a única coisa que faz sentido.
-- João Otero - 2-jul-2011 --
20 junho 2011
Serenata de Amor
A Garoto deveria lançar um bombom Serenata do Amor com um raio 50% maior.
E deveria repensar a engenharia estrutural do bombom para permitir que com uma mordia a "casca" do bombom se desgrude do recheio de forma mais fácil (geralmente a parte de cima sai fácil, mas a de baixo gruda no recheio...).
Mas tem que exigir a "mordida"; não pode desgrudar tão facilmente senão perde o lúdico da coisa...
Por quê?
Ora, quem já foi criança sabe que o jeito certo de comer bombons é separar o recheio da casca, que fica pra ser degustado somente no finalzinho.
E porque aos adultos saudosistas e chocólatras como eu já não sentem as mesmas sensações do tempo de criancice.
Fiquei pensando nisso esses dias, e a explicação é lógica: quando eu era criança, o bombom era quase do tamanho da palma da minha mão! Eu demorava um certo tempo degustando a iguaria...
Agora, na minha mão cabe uns 4... Ponho inteiro na boca, e 3 segundos depois já acabou!
E mesmo que os adultos não tivessem esses complexos quanto ao peso e a saúde (e eles tem!), e comessem uns 3 ou 4 bombons... Ainda assim não seria a mesma sensação.
Portanto: Garoto, por favor, lance um bombom réplica do Serenata de Amor, mas com um raio 50% maior (e que o fundo não grude no recheio)!
:D
-- João Otero - 20-jun-2011 --
E deveria repensar a engenharia estrutural do bombom para permitir que com uma mordia a "casca" do bombom se desgrude do recheio de forma mais fácil (geralmente a parte de cima sai fácil, mas a de baixo gruda no recheio...).
Mas tem que exigir a "mordida"; não pode desgrudar tão facilmente senão perde o lúdico da coisa...
Por quê?
Ora, quem já foi criança sabe que o jeito certo de comer bombons é separar o recheio da casca, que fica pra ser degustado somente no finalzinho.
E porque aos adultos saudosistas e chocólatras como eu já não sentem as mesmas sensações do tempo de criancice.
Fiquei pensando nisso esses dias, e a explicação é lógica: quando eu era criança, o bombom era quase do tamanho da palma da minha mão! Eu demorava um certo tempo degustando a iguaria...
Agora, na minha mão cabe uns 4... Ponho inteiro na boca, e 3 segundos depois já acabou!
E mesmo que os adultos não tivessem esses complexos quanto ao peso e a saúde (e eles tem!), e comessem uns 3 ou 4 bombons... Ainda assim não seria a mesma sensação.
Portanto: Garoto, por favor, lance um bombom réplica do Serenata de Amor, mas com um raio 50% maior (e que o fundo não grude no recheio)!
:D
-- João Otero - 20-jun-2011 --
13 junho 2011
11 junho 2011
29 maio 2011
Jovem é o coração que ainda sabe sofrer
Jovem é o coração que ainda sabe sofrer
Eu, mais desatento,
rescindi a dor do meu peito
e quando dei por mim, envelheci
O sofrimento é um luxo das aflições que valhem a pena
..Mas como dói
E essa dor é o tema
das aflições que eu senti
Mas um peito rasgado se remenda
E a dor só valora as lágrias que pela vida se derrama
Porque jovem é o coração que ama
E amar, e doer, e sofrer... é tudo parte da mesma senda
Que se visita quando houver consentimento
da alegria,
meretriz da dor,
por merecimento
-- João Otero - 13-jan-11 à 29-mai-11 --
28 maio 2011
ensaio: A Evolução da Linguagem
A Evolução da Linguagem
João Otero - 28-maio-2011
João Otero - 28-maio-2011
Desde a invenção do computador moderno, por volta dos anos 1950, passamos a viver a "era da informação". Com o processamento automatizado dos cálculos computacionais, o aumento na quantidade de informação disponível foi notável. Mas a informação por si só não gera valor: a informação só existe com o propósito de ser comunicada, e a consequência direta do aumento da quantidade de informação é o aumento do nível de comunicação.
Não espanta então notar que as principais indústrias e tecnologias dessa nova era são tecnologias de comunicação: televisão, telefonia celular, internet, mp3, redes sociais, etc.
O ápice atual desta era se representa muito bem pelo tamanho da importância da internet na vida moderna. A intensidade da comunicação gera demanda por comunicação eficiente. E a necessidade da comunicação eficiente evolui a língua.
Essa necessidade de eficiência sempre existiu, e sempre evoluiu a língua.
No tempo dos homens pré-históricos, nos primórdios da descoberta da linguagem, a comunicação era menos complexa: vocabulários menores, palavras com poucas sílabas. A necessidade era a de expressar uma ideia e reagir-se a ela rapidamente. A linguagem devia ser eficiente para tratar de problemas em tempo-real, situações de perigo, avisos. Quando a tribo aumenta, surge maior necessidade de substantivos, para diferenciar as pessoas.
Quanto mais items, objetos, produtos e ferramentas passam a fazer parte do dia-a-dia dessas pessoas, com o aumento de seu nível tecnológico, maior a necessidade de novos substantitos - e então, eles aumentam de tamanho; passam a ter mais sílabas; novas fonéticas são convencionadas.
Naturalmente pode-se imaginar que as necessidades no decorrer da evolução dessas tribos eram mais básicas no início, se tornando mais complexas com o passar do tempo, da mesma forma que a pirâmide de Maslow estabelece prioridades crescentes.
Naturalmente pode-se imaginar que as necessidades no decorrer da evolução dessas tribos eram mais básicas no início, se tornando mais complexas com o passar do tempo, da mesma forma que a pirâmide de Maslow estabelece prioridades crescentes.
Portanto, os conceitos de uso mais corriqueiro deviam ser também os mais necessários. Esses conceitos acabaram por "reservar" para si as palavras com menos sílabas. Substantivos e conceitos com ordem progressiva de importância foram ocupando as posições subsequentes que possuíam o menor número de sílabas disponíveis.
Da forma semelhante, certos conceitos são compostos por conceitos de mais baixo nível. Dessa forma é natural que se reutilize esses conceitos já existentes para expressar um novo conceito. Isso facilita a compreensão; é eficiente, portanto. E assim surgem os prefixos e sufixos.
Até mesmo em linguagens modernas de programação de computadores esse conceito de reaproveitamento existe: "classes" de objetos encapsulam conceitos; essas classes podem "herdar" propriedades de outras classes. É uma evolução natural, porque aumenta a eficiência da expressão da linguagem.
E é a necessidade de uso dos conceitos que filtra as palavras que sobreviem (teoria evolutiva tradicional); e quando existe palavras com menos sílabas sobrando, o conceito candidato mais importante irá se apropriar dela. As palavras que necessitam maior frequência de uso são as mais curtas (pronomes, por exemplo). Mas obviamente existe um delay na velocidade de readaptação da linguagem: porque existe uma "convenção"; a convenção se constrói por costume, hábito - e leva tempo, portanto.
A linguagem evolui para ser eficiente.
Mas cada grupo étnico, vivendo em locais diferentes, possui também diferentes "necessidades de expressão". Os que vivem em locais frios possuem o conceito de "neve" como algo importante. Os que moram em áreas desérticas provavelmente possuem "água" como algo muito importante, e talvez "sol" e "sombra" também.
As tribos evoluíram tecnologicamente e dessa forma aumentaram seus tamanhos, criando eventualmente vilas e cidades. Passa então a se criar devagar o conceito de "nação". E a cada aumento dos grupos, maior competição entre grupos acontece: guerras. Os grupos étnicos mais fortes acabam determinando a linguagem convencionada. E dado o delay imposto pelo costume, conceitos importantes para a etnia dominadora substituem palavras da etnia dominada, e isso pode explicar a "ineficiência" absoluta da linguagem, no sentido de que não existe uma linguagem absolutamente eficiente para todas as necessidades humanas. Ou seja: em sua maioria, a linguagem é eficiente; mas existirão palavras que podem não parecer tão eficientes.
A população cresce e mais tarde surge a necessidade de se registrar números, astros, acontecimentos. Surge a linguagem escrita.
E ela surge em dois sabores: podemos registrar conceitos, ou podemos registrar fonemas. A primeira é mais eficiente para leitura. A segunda é mais versátil em termos de reuso; o vocabulário é mais sucinto e quantidade de regras expressando suas relações são menores.
Tome-se como exemplo o mandarim e o inglês. No mandarim os textos são mais curtos, e a leitura é mais rápida. No entando, necessita-se maior treinamento, pois há mais regras e há mais representações para se aprender. No inglês os textos são maiores, mas as regras e representações são mais generalistas. Pode-se aprender o sistema mais rapidamente. São dois modelos distintos de eficiência competindo entre si. Eventualmente um dos sistemas irá vencer, - combinação de eficiência com poder étnico. E quando o poder étnico é determinado pela eficiência da comunicação, cada vez mais, como na era da informação, a linguagem mais eficiente tende a gerar maiores condições de poder ao seu povo.
Da mesma forma que não existe eficiência absoluta na linguagem falada, não existe também na linguagem escrita. A linguagem não pode ser ao mesmo tempo a mais rápida de se compreender e a mais rápida de se pronunciar; a mais poderosa de se expressar e a mais genérica de se registar; etc. Qual seria uma convenção de linguagem mais equilibrada para as necessidades atuais? Poderíamos criar uma?
A necessidade contemporânea é transmitir e compreender a maior quantidade de informação de forma mais rápida e precisa possível. E nesse sentido, especialmente quando a internet catapulta essa necessidade, surge notóriamente no meio virtual a evolução do poder de expressão da linguagem. Atualmente podemos expressar também "sentimentos", através de emoticons. Podemos representar que estamos gritando, com letras maiúsculas. Outras convenções do tipo já eram presentes em textos: texto entre aspas pode indicar pensamento, ou a fala de outrém.
Na internet, nos sms, em instant messages, busca-se a eficiência. Palavras de uso muito comum são convencionadas massiçamente. Você é "vc". Praticamente não há sobreposição com qualquer outro conceito. E é mais eficiente uma palavra de 2 letras do que uma de 4 letras. Essas convenções passam a aparecer em textos diversos, e eu acho ótimo que seja assim! Os defensores das normas, na minha ótica, são produtores de "delay" na evolução da língua.
Nesses casos, gosto muito de dizer "Entendeu? Então não complica...".
24 maio 2011
Amor de louco
Um amor transcendental,
Um amor de louco!
Lembrança rota de um pedido rouco
Seguiu-se ao sopro de um suspiro fraco...
Da prece magra do amor de um louco,
Ouviu-se à lua uivar um lobo.
(Somos lobisomens todos nós um pouco...)
Quem nunca ousou em suspirar - de bobo -
Pedindo muito a quem dispunha pouco?
-- João Otero - de 2004 à 24/mai/2011
Um amor de louco!
Lembrança rota de um pedido rouco
Seguiu-se ao sopro de um suspiro fraco...
Da prece magra do amor de um louco,
Ouviu-se à lua uivar um lobo.
(Somos lobisomens todos nós um pouco...)
Quem nunca ousou em suspirar - de bobo -
Pedindo muito a quem dispunha pouco?
-- João Otero - de 2004 à 24/mai/2011
Na Beira do Universo
Esse era eu, uns anos atrás, pensando em como seria lá no final do Universo...
Sou um determinista, e portanto avesso a todas as probabilidades quando transformadas em "lei" (como a física quântica ou a entropia, por exemplo - embora eu ainda as aceite bem se tratadas como ferramentais matemáticos, apenas).
Mas gosto de manter sempre em mente que o limite de uma série qualquer é "quase o número", mas nunca "é" o número.
Gosto de manter sempre em mente que apesar de não podermos determinar simultâneamente a posição e a velocidade de uma partícula, não quer dizer que essa particula não possua de fato uma posição e uma velocidade únicas em um dado momento.
E que por mais que não haja computador capaz de computar todos os a-toms do universo e descobrir seu próximo estado, não quer dizer que o conjunto de todas as coisas não possua um único e bem determinar próximo estado, consequência direta do estado presente e das leis universais que as regem.
E sendo assim, como seria lá na beirada do universo, que se expande, se expande...?
Digamos que ele parasse de expandir: "batesse na borda". E começasse a voltar: exatamente para o último estado antes de bater lá na borda...
O tempo, que para nós parece linear, continuaria uma sucessão de "estados" instantâneos do universo. Mas agora ele estaria andando de trás para frente, voltando aos exatos estados anteriores, numa sucessão idêntica e contrária à sucessão que o fez chegar na tal borda.
...E quando o universo todo se implodisse em si mesmo, chegando no extremo de concentração de partículas que não cabem mais umas nas outras, só teria o mesmo caminho original a percorrer, expandindo até hoje, expandindo até a beira do universo, e voltando para esse ciclo eternamente, num vai-e-vem eterno como um elástico.
Minha ideia do universo provavelmente está errada. E eu nem quero pensar muito no assunto e nem estudar física, porque me frustra muito saber que jamais vou ter a resposta... Mas bem que essa ideia me deu um poeminha interessante:
Na Beira do Universo
Na beira do universo em tempo infindo
o tempo não queria mais correr.
De trás pra frente tudo veio vindo
e a morte começou a renascer.
Os raios alcançaram seu destino
- e ele não sabia o que fazer.
Os raios regrediram então seus brilhos
e os fótons implodiram ao florescer.
Com todo o infinito acumulado
no ínfimo corpúsculo do nada,
o cúmulo improvável aconteceu:
O cosmo já não tinha mais passado!
...A lei da entropia derrubada,
com morte ao mesmo tempo em que nasceu.
- João Otero - 18/out/2005 --
Sou um determinista, e portanto avesso a todas as probabilidades quando transformadas em "lei" (como a física quântica ou a entropia, por exemplo - embora eu ainda as aceite bem se tratadas como ferramentais matemáticos, apenas).
Mas gosto de manter sempre em mente que o limite de uma série qualquer é "quase o número", mas nunca "é" o número.
Gosto de manter sempre em mente que apesar de não podermos determinar simultâneamente a posição e a velocidade de uma partícula, não quer dizer que essa particula não possua de fato uma posição e uma velocidade únicas em um dado momento.
E que por mais que não haja computador capaz de computar todos os a-toms do universo e descobrir seu próximo estado, não quer dizer que o conjunto de todas as coisas não possua um único e bem determinar próximo estado, consequência direta do estado presente e das leis universais que as regem.
E sendo assim, como seria lá na beirada do universo, que se expande, se expande...?
Digamos que ele parasse de expandir: "batesse na borda". E começasse a voltar: exatamente para o último estado antes de bater lá na borda...
O tempo, que para nós parece linear, continuaria uma sucessão de "estados" instantâneos do universo. Mas agora ele estaria andando de trás para frente, voltando aos exatos estados anteriores, numa sucessão idêntica e contrária à sucessão que o fez chegar na tal borda.
...E quando o universo todo se implodisse em si mesmo, chegando no extremo de concentração de partículas que não cabem mais umas nas outras, só teria o mesmo caminho original a percorrer, expandindo até hoje, expandindo até a beira do universo, e voltando para esse ciclo eternamente, num vai-e-vem eterno como um elástico.
Minha ideia do universo provavelmente está errada. E eu nem quero pensar muito no assunto e nem estudar física, porque me frustra muito saber que jamais vou ter a resposta... Mas bem que essa ideia me deu um poeminha interessante:
Na Beira do Universo
Na beira do universo em tempo infindo
o tempo não queria mais correr.
De trás pra frente tudo veio vindo
e a morte começou a renascer.
Os raios alcançaram seu destino
- e ele não sabia o que fazer.
Os raios regrediram então seus brilhos
e os fótons implodiram ao florescer.
Com todo o infinito acumulado
no ínfimo corpúsculo do nada,
o cúmulo improvável aconteceu:
O cosmo já não tinha mais passado!
...A lei da entropia derrubada,
com morte ao mesmo tempo em que nasceu.
- João Otero - 18/out/2005 --
23 maio 2011
Borboletas
bárbaras borboletas!
belas bordas bordadas,
balançando brilhantes brumas...
bélicos brutos bradaram:
...borboletas baleadas no chão.
Veja outros poemas da coleção Letras
-- João Otero - 1/mar/2005 --
08 abril 2011
Brazilian Columbine
Brazilian Columbine
...Eu só queria enxugar
toda essa lágrima,
esse medo
Porque passou...
já vai lá
aquele um,
nem me lembro...
O que eu vejo é mais perto,
é aqui do lado,
aqui dentro
Ausência de quem me era
a extensão do que ia eu sendo
Agora queria os meus olhos
bem vendados para dentro
Só não queria enxergar todo este sangue
escorrendo...
Brazilian Columbine;
Rio de Janeiro,
Realengo.
-- João Otero - 8-abril-11 --
...Eu só queria enxugar
toda essa lágrima,
esse medo
Porque passou...
já vai lá
aquele um,
nem me lembro...
O que eu vejo é mais perto,
é aqui do lado,
aqui dentro
Ausência de quem me era
a extensão do que ia eu sendo
Agora queria os meus olhos
bem vendados para dentro
Só não queria enxergar todo este sangue
escorrendo...
Brazilian Columbine;
Rio de Janeiro,
Realengo.
-- João Otero - 8-abril-11 --
20 março 2011
Do tanto que eu tenho
Do tanto que eu tenho
é cheio de tanto
o peito que eu tenho
um tanto que quanto
de tudo o que eu minto
e às vezes dá nele
um vazio tão cheio
tão cheio de tanto
esse lado que sinto
é de um tanto quanto
metade do meio
enchido de sonhos
dum sono que tenho
num vento varrido
em borboleteio
chegou-me atrevido
com um galanteio
e o cheiro de encanto
do lado do meio
tão perto da lua
tão perto do seio
flutua vazio
bem leve e ligeiro
varrido dos campos
de um sono alheio
e como era lindo
o vento ventando
o pranto que omito
e como era feio
-- João Otero - 20-mar-2011 --
é cheio de tanto
o peito que eu tenho
um tanto que quanto
de tudo o que eu minto
e às vezes dá nele
um vazio tão cheio
tão cheio de tanto
esse lado que sinto
é de um tanto quanto
metade do meio
enchido de sonhos
dum sono que tenho
num vento varrido
em borboleteio
chegou-me atrevido
com um galanteio
e o cheiro de encanto
do lado do meio
tão perto da lua
tão perto do seio
flutua vazio
bem leve e ligeiro
varrido dos campos
de um sono alheio
e como era lindo
o vento ventando
o pranto que omito
e como era feio
-- João Otero - 20-mar-2011 --
28 janeiro 2011
O medo
o medo,
um algo ruim dissolvido na incerteza
assaltante e posseiro da mente,
cujo pensamento deveria unicamente
se ocupar de mexer as pernas imóveis,
de correr com presteza!
o medo,
que não serviu jamais para mais do que alguns conselhos
que no teu espelho, serviu apenas para evitar alguns cacos,
uns parcos erros, alguns cortes
(mas já se sofrendo...)
o medo,
que serviu apenas para evitar algumas mortes
(mas já se morrendo...)
o medo,
que enfim, pobre coitado,
nunca deixou por estes lados nada que preste
o medo,
professor severo da timidez
inimigo da paixão e qualquer outra insensatez
palhaço triste do circo da vida, ocupando as tuas noites,
no picadeiro dos teus sonhos
(porque não mais dos meus)
ao medo,
companheiro daqueles que não têm ânsias,
companheiro daqueles que não têm sorte,
o meu sincero abraço forte,
as minhas palmas
e adeus!
-- João Otero - 27-jan-11 --
um algo ruim dissolvido na incerteza
assaltante e posseiro da mente,
cujo pensamento deveria unicamente
se ocupar de mexer as pernas imóveis,
de correr com presteza!
o medo,
que não serviu jamais para mais do que alguns conselhos
que no teu espelho, serviu apenas para evitar alguns cacos,
uns parcos erros, alguns cortes
(mas já se sofrendo...)
o medo,
que serviu apenas para evitar algumas mortes
(mas já se morrendo...)
o medo,
que enfim, pobre coitado,
nunca deixou por estes lados nada que preste
o medo,
professor severo da timidez
inimigo da paixão e qualquer outra insensatez
palhaço triste do circo da vida, ocupando as tuas noites,
no picadeiro dos teus sonhos
(porque não mais dos meus)
ao medo,
companheiro daqueles que não têm ânsias,
companheiro daqueles que não têm sorte,
o meu sincero abraço forte,
as minhas palmas
e adeus!
-- João Otero - 27-jan-11 --
10 janeiro 2011
Veias
Dóem as veias
De que se nutre essa dor?
Estariam entupidas
De angústias ou pavor?
Ou estariam elas secas
De amores e frescor?
Dóem as veias
Dóem-me mais do que a dor
Dóem-me além do corpo
Que se esvaiu em torpor
Teriam as veias levado
Para longe o meu calor?
Dóem as velhas veias
Intimadas a depor
-- João Otero - 10-jan-11 --
De que se nutre essa dor?
Estariam entupidas
De angústias ou pavor?
Ou estariam elas secas
De amores e frescor?
Dóem as veias
Dóem-me mais do que a dor
Dóem-me além do corpo
Que se esvaiu em torpor
Teriam as veias levado
Para longe o meu calor?
Dóem as velhas veias
Intimadas a depor
-- João Otero - 10-jan-11 --
04 janeiro 2011
Nunca confie nos teus amigos bêbados
A mão companheira é a que bendigoSegredos contados por entre alguns dedos
Onde há abrigo,
confronta-se os medos
...Mas nunca confie nos teus amigos bêbados
Nunca confie nos teus amigos bêbados!
Tudo o que já pude, tudo o que consigo
Tudo o que imito, todos que arremedo
Se são teus amigos
Desvele o segredo
...Mas nunca confie nos teus amigos bêbados
Nunca confie nos teus amigos bêbados!
-- João Otero - 4-jan-10 --
Onde há abrigo,
confronta-se os medos
...Mas nunca confie nos teus amigos bêbados
Nunca confie nos teus amigos bêbados!
Tudo o que já pude, tudo o que consigo
Tudo o que imito, todos que arremedo
Se são teus amigos
Desvele o segredo
...Mas nunca confie nos teus amigos bêbados
Nunca confie nos teus amigos bêbados!
-- João Otero - 4-jan-10 --
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